Aconteceu no dia 4 de abril de 2013 a aula aberta Espaço Público e Resistência realizada pela disciplina Paisagismo: Sistema de Espaços Livres, do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU, que contou com a participação de nomes como Vladimir Safatle, professor da FFLCH, Eugenio Queiroga, um dos professores dessa matéria, a professora Vera Pallamin; também da FAU e Gabriel Lima, estudante de Letras.
O tema mais amplamente abordado na aula foi a configuração dos espaços públicos nas grandes cidades. Segundo o professor Safatle, atualmente, os mesmos foram sendo desmantelados, e com isso, as manifestações políticas feitas acabam sendo jogadas para a invisibilidade, tornando uma das características do espaço público – a de dar visibilidade sem a necessidade de exercer uma função – algo que não passa do campo teórico.
Logo no início da discussão foi colocado que o espaço público e o campo político possuem uma forte articulação, citando o exemplo de Atenas, onde esse espaço era utilizado para resolver questões políticas. Entretanto, atualmente, com a monetarização de espaços, a noção do espaço público foi se perdendo.
O professor Safatle ressalta também que, se formos dilatar o tempo e observar, veremos que toda manifestação política tem o intuito de retomar o espaço público. Ele diz que nunca houve, por exemplo, uma manifestação social que buscava o fim do capitalismo, que as questões eram muito mais pontuais, mas que foram utilizadas como sinais de um problema maior e universal.
Entretanto, como os espaços públicos estão desagregados, a cidade sofre todo um processo de despolitização, pois os conflitos tornam-se invisíveis e de certa forma desqualificados, uma vez que tentam fazer parecer que não há nada a ser melhorado e que a manifestação é sem causa. Nas nossas cidades, atualmente, não há mais visibilidade sem função no espaço público, apesar desse ser um dos seus conceitos.
A questão da arte também é abordada pela professora Pallamin, que diz que até os anos 90 a cidade tinha pouca familiaridade com esse tipo de manifestação no espaço público, até que houve uma explosão de intervenções dele por artistas, fazendo com que a resistência começasse a se misturar com os processos urbanos, onde grupos de arte eram uma forma importante e significativa de resistência. Os artistas procuravam enfrentar a invisibilidade através dessa arte, faziam teatro crítico e se contrapunham aos valores hegemônicos que causavam o desmanche dos espaços públicos.
Quando os professores abriram para perguntas, surgiram assuntos como as diferenças das manifestações da época do Diretas Já, por exemplo, que eram feitas em forma de passeatas, para as manifestações atuais, que se centram mais nas ocupações. Safatle falou da origem desse modelo de ocupação, que surgiu na França, entre 2005 e 2006 e ressaltou a metáfora existente nisso, uma vez que nas ocupações, as pessoas ficam paradas num lugar, sugerindo que as manifestações de hoje, por serem feitas dessa maneira, também não tenham resultados efetivos.
Ao fim do evento, uma das organizadoras, a professora Catharina Pinheiro Lima afirmou que a ideia do evento surgiu pois eles se preocupavam em tornar a informação acessível à todos, uma vez que é um assunto que diz respeito a todos. Por esse motivo, fizeram uma forte divulgação nas redes sociais. Disse também que teve as suas expectativas atendidas, pois os palestrantes levantaram questões atuais, e que pretendem fazer mais aulas abertas dessas até o final do semestre, não apenas dentro do formato discursivo, como foi essa, mas também de projetos, como um que envolve o Butantã e afeta a Cidade Universitária, que está programado para fechar esse ciclo de aulas.