ISSN 2359-5191

21/10/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 15 - Sociedade - Instituto de Estudos Avançados
Dom Paulo Evaristo Arns critica violência no Oriente Médio e defende “paz ecumênica”.
Para o cardeal, a religião deve exercer juízo crítico sobre a guerra, transformado em conteúdo para preces e a difusão da paz

São Paulo (AUN - USP) - A crença na qual os movimentos de paz devam ser conduzidos pelos jovens, os operários, a família e os difusores de notícias (ou seja, os jornalistas) não é uma reivindicação recente nos meios religiosos. Ela apareceu no famoso Concílio Vaticano II, iniciado em 1962 pelo papa João XXIII e concluído pelo seu sucessor Paulo VI anos depois. A mesma fé na condução destes movimentos é compartilhada pelo cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no Instituto de Estudos Avançados (IEA).

Ligado a Teologia da Libertação e conhecido mundialmente por sua defesa pelos direitos humanos no Brasil durante a ditadura militar, Dom Paulo fez uma conferência na última terça-feira, em que expressou sua esperança na tentativa de se alcançar a paz, em meio à desordem na geopolítica mundial, especialmente no Oriente Médio. Estiveram presentes no evento os professores Fábio Konder Comparato, João Steiner e Alfredo Bosi.

Dom Paulo acredita que a promoção da paz no mundo é “intrinsicamente ecumênica e inter-religiosa”. Para ele, o amor é a fonte da paz, a qual as religiões devem esforçar-se em divulgar pela mídia. Entretanto, é preciso oferecer oportunidade para que se conheça as religiões e suas propostas para a prática da ética e da solidariedade, ingredientes fundamentais no aprofundamento do ecumenismo.

Iraque

O cardeal também falou sobre a atual e instável ordem mundial, com destaque para a Guerra no Iraque, um “banho de sangue que envergonha nossa triste humanidade e que ocupa parte substancial da mídia, com atentados, explosões, mortes”. Ele citou várias vezes o papa João Paulo II, que, em junho de 2004, recebeu, no Vaticano, o presidente norte-americano George W. Bush. Dom Paulo relembrou este encontro, em que o chefe da Igreja Católica clamou a Bush o retorno da “normalidade no Iraque e na Terra Santa, com a participação ativa da comunidade internacional e, principalmente, das Nações Unidas”. No entanto, Dom Paulo lamenta que o presidente dos Estados Unidos tenha ignorado o pedido do papa: “Bush ouviu por um ouvido e deixou sair pelo outro”.

No fim de sua exposição, o cardeal falou especialmente à juventude, a quem confia as manifestações pela paz mundial. Mencionou os protestos globais contra a guerra conduzida por Bush e Blair. “A juventude mostrou mais sabedoria do que certos governos, como os dos Estados Unidos e Reino Unido”.

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