São Paulo (AUN - USP) - Um dos efeitos da imobilização de um membro é a rápida perda de massa muscular. Um estudo realizado recentemente no Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) constatou que a suplementação de creatina, uma substância que promove ganho de massa muscular quando associada a treinamento de força, é capaz de diminuir o grau de atrofia de músculos submetidos à imobilização.
O pesquisador Marcelo Saldanha Aoki, doutorando do ICB e professor de Educação Física, verificou que a perda de massa muscular foi reduzida em aproximadamente 43% em ratos que foram submetidos à imobilização e receberam uma suplementação prévia de creatina. A pesquisa foi publicada neste ano no periódico internacional Clinical Nutrition, volume 23, número 5.
As cobaias foram inicialmente divididas em três grupos. O chamado “grupo controle” foi submetido à imobilização durante sete dias e não recebeu doses de creatina. Verificou-se que, neste grupo, houve uma perda de massa muscular correspondente a 35%. Um segundo grupo ingeriu creatina apenas durante o período de imobilização e não obteve melhoras no nível de atrofia. A redução da perda de massa muscular – de 35% para 20% - aconteceu somente no terceiro grupo, que recebeu creatina sete dias antes da imobilização e também durante o período de restrição dos movimentos.
Saldanha explica por que a suplementação só foi eficiente quando realizada previamente à imobilização: “O transporte da creatina depende da contração muscular e da ação da insulina. O músculo imobilizado reduz dramaticamente sua atividade contrátil e, além disso, apresenta resistência à ação da insulina”. Segundo ele, uma aplicação prática desse estudo seria a ingestão prévia de creatina, acompanhada de treinamento, por parte de atletas que serão submetidos a cirurgias e, portanto, a grandes períodos de imobilização.
Propriedades
A creatina é produzida naturalmente pelo organismo e obtida através da alimentação. Quando utilizada como suplemento, provoca o aumento de massa muscular. Uma pesquisa realizada durante os Jogos Olímpicos de 1996 mostrou que cerca de 80% dos atletas ingeriam creatina regularmente. Um levantamento que data de 1999 verificou que são consumidas, no mundo, aproximadamente 2,7 mil toneladas da substância por ano.
Vale ressaltar que a creatina não faz parte dos popularmente conhecidos anabolizantes, hormônios sintéticos capazes de provocar alterações graves no organismo. “Apesar de haver preocupação com relação a efeitos colaterais da creatina, não há nada comprovado”, afirma Saldanha. Há suspeitas de que a substância sobrecarregue os rins e o fígado devido ao aumento da quantidade de nitrogênio no organismo. Um estudo realizado no ano passado (Nephrol Dial Transplant), no entanto, não verificou a ocorrência desses efeitos. Os pesquisadores lesionaram os rins de ratos que, em seguida, receberam doses de creatina, e não houve influência sobre a função renal.
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