A pesquisadora Patrícia Lopes Campos proferiu palestra na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP abordando seus estudos sobre o vínculo entre a ingestão de creatina e a redução do crescimento tumoral de um modelo de câncer agressivo, como o humano. Também é de interesse fundamental para a pesquisa que, no caso de a relação ser comprovada, haja uma busca pela melhor forma de explicar este efeito da creatina.   

Patrícia é pós-doutoranda do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado à Atividade Motora, localizado na própria EEFE, e idealizadora da pesquisa cujo tema é a “Suplementação de creatina em ratos portadores do tumor de Walker 256”. Durante a exposição de seu tema de estudos, ela deixou claro que não apresentaria resultados, mas sim uma discussão de perspectivas, haja vista a pesquisa ainda estar em andamento.

Creatina é o nome dado a um composto de aminoácidos responsável por aumentar a capacidade de produzir energia através das mitocôndrias e pelo consequente ganho de massa muscular. Recentemente, sua venda na condição de suplemento alimentar foi proibida no Brasil, devido aos casos de problemas renais em seus usuários. Entretanto, em 2010, a decisão foi rescindida e hoje a creatina é consumida por boa parte da população: de atletas de alto rendimento a adolescentes que objetivam “ganhar músculos”.

Os estudos de Patrícia sobre o efeito da aplicação de creatina foram feitos com ratos. A escolha dos roedores como método de estudos não foi à toa, conforme explicou a pesquisadora, logo no início da apresentação. “O rato é um animal bastante razoável para estudarmos tumores antes de partir para a experimentação humana”, afirmou. “Fácil de comer uma ração, fácil de treinar, podemos abrir grupos relativamente grandes e com um perfil genético parecido, pois a ninhagem é boa.” 

A pesquisa na prática

Os testes envolvendo a aplicação de creatina na ração de ratos mostrou que os efeitos do composto aminoácido podem ir além da melhora de desempenhos musculares ou da função de medidora de função renal. Conforme Patrícia apresentou, um grupo de estudos da Índia, em 2012, “associou a suplementação de creatina a um quimioterápico conhecido, o metilglioxal, e viu que a creatina potencializa a ação deste quimioterápico”. Então, o estudo indiano concluiu que a aplicação do composto aminoácido “faz com que aconteça a reversão quase total em tumores”, como afirmou a pesquisadora.

Assim, Patrícia começou seus testes com roedores — testes estes que duram até hoje. Como conclusão parcial, ele compara a creatina, no que diz respeito à busca pela cura do câncer, com a cereja de um bolo. Segundo a pesquisadora, há muitos outros fatores responsáveis por uma resposta positiva no caso de uma reversão tumoral, tais como o funcionamento e o poder de resposta do metilglioxal e a vitamina C presente nos organismos dos ratos. Nas palavras da palestrante, “a creatina, sozinha, não tem um efeito fantástico de cura”.

A palestra foi concluída com um alerta da pesquisadora. Segundo ela, a creatina apresenta um “lado negro” e, assim sendo, não deve ser vista como uma substância 100% benéfica ao tratamento tumoral.  “Os alimentos que contém creatina — sobretudo a carne, que é uma das maiores fontes —, quando estão sujeitos a altas temperaturas, além de serem fontes do composto aminoácido, produzem substâncias altamente cancerígenas”, alertou. “Ou seja, é complicado trabalhar com câncer. Uma coisa, numa situação, tem um efeito positivo. Num outro contexto, pode ter um efeito totalmente oposto”, finalizou Patrícia.