Doenças periodontais são agravadas pelo tabagismo e, quando não tratadas, podem acarretar a perda de dentes em fumantes portadores da doença. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia (FO) da USP pela mestranda Elaine Fueta Gomes. Sob a orientação do professor Cláudio Mendes Pannuti, a pesquisadora avaliou 59 pacientes nessa situação durante 24 meses.
Na primeira fase do estudo, os pacientes assistiram a uma palestra com diversos profissionais, inclusive dentistas, que explicavam os efeitos do cigarro no corpo. Após as palestras, aqueles elegíveis ao estudo foram convidados a participar da pesquisa. Se aceitassem, eram submetidos a um exame odontológico e periodontal completo.
Para participar do estudo, os candidatos deveriam ser maiores de 18 anos, ter mais de 10 dentes na boca, não ser portador de doenças autoimunes consideradas fatores de risco para doença periodontal, como diabetes e infecção por HIV, não ter realizado tratamento periodontal nos últimos 6 meses ou ter feito uso contínuo de anti-inflamatório ou drogas não-esteroidais. Além disso, os participantes deveriam ter a periodontite. Segundo Elaine, “esse problema começa com a presença de placa bacteriana, causada pela má escovação”. Geralmente a doença inicia com uma gengivite, mas pode evoluir até ocasionar a perda dos tecidos que sustentam os dentes.
Perda dentária
Após a triagem, os dentistas realizavam um tratamento periodontal não-cirúrgico, que incluía raspagem de tártaro e limpeza, além de incentivar o paciente a parar de fumar. Esse procedimento era feito semanalmente, após as palestras. Depois de quatro a seis sessões, o participante entrou numa fase de acompanhamento, em que ele deveria ser examinado trimestralmente e submetido a consultas para manter a saúde periodontal.
Durante todo o estudo, foi avaliada a necessidade de extração dos dentes através de exames e radiografias. “Só poderíamos retirar os dentes com a concordância de três profissionais”, esclarece Elaine. Entre as causas de perda dentária estavam as cáries e a doença periodontal. Outras perdas também eram registradas, inclusive as extrações realizadas fora do grupo de pesquisa.
A pesquisadora explica que, durante o primeiro ano de tratamento, houve uma tendência de perda dentária maior nos pacientes fumantes, se comparado àqueles que estavam tentando parar de fumar. Ela credita esse resultado à diferença de comportamento entre os dois grupos. “O fumante se importa menos com a saúde dele, e a preocupação em manter os dentes é menor”, diz.
Além disso, após o segundo ano de estudo, muitos pacientes que estavam tentando evitar a extração dos dentes acabaram perdendo-os também, o que indica que o tratamento realizado não foi o suficiente para salvá-los. Elaine diz que já é descrito na literatura que o cigarro diminui a eficácia do tratamento contra as doenças periodontais. Ela frisa: “O cigarro não é um causador da doença, mas ele vai agravá-la se o indivíduo a tiver”.
Danos a longo prazo
O cigarro ocasiona a constricção e diminuição dos vasos presentes no tecido gengival, o que faz com a irrigação sanguínea nessa área diminua, bem como a chegada das células de defesa. “Essa situação faz com que a região fique mais suscetível ao agravamento da doença periodontal”, diz.
Elaine ainda explica que o dano causado pelo cigarro na saúde bucal acontece a longo prazo. É também difícil avaliar em quanto tempo a saúde de um ex-fumante se equipara à de uma pessoa que nunca fumou. Segundo um estudo citado pela mestranda, "mesmo depois de 10 anos sem cigarro, a pessoa ainda tem 20% a mais de chance de perda dentária”.