Ocorreu, na Escola Politécnica, o simpósio “Estratégias das montadoras de automóveis asiáticas no Brasil – O impacto do Novo Regime Automotivo (INOVAR-AUTO)”. As apresentações contaram com as presenças do professor Gilmar Masiero, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP); do professor Hideo Kobayashi, professor da Universidade Waseda Tóquio e Presidente do Instituto de Pesquisa de Indústrias de Automóveis; de André Soares, Coordenador de Pesquisa do Conselho Brasil China de Negócios e convidados das montadoras Hyundai e Toyota.
O mercado automotivo brasileiro é hoje o quarto maior do mundo. Segundo Ugo Ibusuki, professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI-SP), previsões conservadoras apontam um crescimento de 4,3% até 2017. Isso deve-se, principalmente, à ascensão da nova classe média, as taxas de juros em declínio, à inflação estável e aos grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que fomentam grandes investimentos em infraestrutura, principalmente em energia e mostram o Brasil como um país promissor para investidores.
Mesmo com investimentos batendo recordes, o preço do produto final, o automóvel, ainda é um dos mais altos do planeta. Em comparação a um modelo análogo indiano, o carro brasileiro chega 20% mais caro ao consumidor. Se comparamos com países de indústria mais sólida, como o Japão ou os EUA, o carro brasileiro é duas vezes mais caro, em média. Ainda segundo o professor Ibusuki, o Brasil deixou de ser um país barato. Nossa mão-de-obra já não se compara a de países como China ou México em questão de custo. Ainda que sejamos um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo, o preço do aço no Brasil é um dos maiores, assim como o custo de produção de energia e a carga tributária, muitas vezes mais alta que nos outros BRICS. A lista de problemas continua: um dos piores desempenhos logísticos do planeta, uma das mais baixas taxas de competitividade e uma das maiores dificuldades de se obter crédito.
Tendo em vista o atual estado da indústria automobilística nacional, o governo brasileiro em acordo com as maiores produtoras nacionais, engendrou um plano para melhorar a cadeia produtiva do setor automobilístico, o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (INOVAR-AUTO). Com os preços dos produtos nacionais em constante ascensão, a mão-de-obra mais cara e a infraestrutura cada vez mais defasada, a produtividade do setor no brasil não acompanhou a subida dos preços. Com isso, as margens de lucro das montadoras foram diminuindo, o que por sua vez causou a escassez de importantes investimentos, como em pesquisa e desenvolvimento. É nesse ponto que o INOVAR-AUTO considera atuar.
As montadoras que quiserem participar do programa e assim evitar um aumento de 30% no IPI (Imposto sobre produtos industrializados) que será realizado ainda em 2013, terão que cumprir metas estabelecidas pelo programa. Até 2017, 8 de 12 processos de fabricação deverão ser feitos no país. Além disso, a redução pode ser ainda maior caso algumas metas de pesquisa, envolvendo principalmente o aumento da eficiência dos motores, forem atingidas, podendo chegar a adicionais 2%. O programa também obriga as montadoras a informar o consumidor sobre a eficiência energética do automóvel, nos mesmos moldes que já acontece nos eletrodomésticos produzidos no Brasil. O regime também oferece benefícios – ainda que menores – as montadoras que não produzem carros no Brasil, somente os comercializam.
As prerrogativas do INOVAR-AUTO são um marco na indústria brasileira e assim também acreditam as montadoras. Tanto Hideo Kobayashi, quanto Yingshan Jin, da Hyundai, garantiram que as previsões de investimentos para o Brasil irão aumentar até as Olimpíadas de 2016. O outro gigante asiático, maior investidor no Brasil desde 2010 e único com um know-how possivelmente perfeito para o público brasileiro, a China, também confirmou investimentos nos próximos anos.