O pesquisador e professor Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP, depois de diversos trabalhos com a doença da dengue iniciou esse ano uma nova pesquisa relacionando a incidência de queimadas com a diminuição da doença no mesmo período. A hipótese surgiu em 2007 durante a estadia de Massad em Cingapura como professor visitante.
Em 2005, Cingapura vivenciou uma enorme epidemia de dengue, de acordo com a dinâmica da doença em 2006 os casos deveriam ser poucos e já em 2007 a epidemia deveria ressurgir. Porém a epidemia de 2007 não veio e a doença só se manifestou novamente em 2008. Coincidentemente em 2007, houve uma enorme queimada na Indonésia que "durante duas ou três semanas a gente não enxergava o céu".
Esses fatos intrigaram Massad e o seu grupo de pesquisadores que decidiram ir atrás dessa relação. Ao voltar para o Brasil e observar alguns dados percebeu que nos anos com muitas queimadas não havia dengue e vice-versa. Os dados são apenas o ponto de partida da pesquisa e ainda é muito cedo para saber a verdadeira causa dessa corelação negativa entre os dois fatores.
Um hipótese levantada é que fumaça das queimadas pode prejudicar as populações do mosquito Aedes aegypti diminuindo assim a transmissão da doença. Outra hipótese é climática: as épocas de queimadas são as mesmas das de seca, que naturalmente tem menos dengue, assim pode ser que a seca esteja causando tanto as queimadas como dificultando a reprodução do mosquito vetor.
Para checar quais das hipóteses são corretas serão feitos experimentos em laboratório conjuntamente com pesquisadores de Belo Horizonte.
Os gráficos abaixo ilustram os primeiro dados coletados da pesquisa. Feitos com dados de quatro estados brasileiros vemos que nos anos em que existem picos de dengue (em azul) as queimadas (em vermelho) são reduzidas e vice-e-versa.
Pará (PA) e Roraima (RO):
Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS):
Impactos sociais de uma vacina contra dengue
Além de iniciar esse trabalho, Eduardo Massad também orienta outros estudos em relação a dengue. Recentemente trabalhou com uma pesquisa comportamental para verificar se se as pessoas iram continuar a tomar cuidados para evitar a dengue mesmo se, por acaso, for criada uma vacina.
Para isso ele entrevistou acompanhantes dos pacientes do Hospital das Clinícias (HC) dividiu em dois grupos: para um ele anunciou uma vacina mais ou menos eficiente e para outro uma vacina muito eficaz. Esse pesquisa ainda está em vias de expansão, mas os primeiros resultado já são visíveis. O primeiro grupo se comprometeu a continuar com a prevenção, porém o segundo já demonstrou sinais de descuidados. "Isso quer dizer que a vacina não for muito eficiente a situação pode piorar" explica o professor "Isso já aconteceu com a HIV/AIDS, que por conta de existir um tratamento as pessoas começaram a relaxar nas práticas de sexo seguro e os índices voltaram a aumentar".