“O efeito do ambiente no gás e nas estrelas de galáxias distantes” foi o tema da palestra da venezuelana Yara L. Jaffé, doutora pela Universidade de Nottingham e pesquisadora da Universidad de Concepción no Chile, em que apresentou as descobertas de dois projetos em andamento dos quais faz parte, EDisCS e BUDHIES.
Ambos os projetos consistem em pesquisas de ambientes ricos em aglomerados de galáxias bem distantes, porém divergem nos métodos, equipamentos e zona mapeada. EDisCS (ESO Distant Cluster Survey) é uma vistoria de aglomerados financiado pela ESO _Organização Européia de Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul_ e baseia-se mais em dados coletados por telescópios ópticos. Trata-se de trabalho conjunto feito por mais de 20 pesquisadores de todas as partes do mundo que estudam as propriedades do gás e de estrelas com dados de 422 linhas de emissão em espectros (redshift) entre 0.3 e 0.9 (0.3redshift). Esse intervalo demonstra o quão grande foi a zona mapeada nesse estudo.
Enquanto o BUDHIES (Blind Ultra Deep HI Environmental Survey) utiliza-se, majoritariamente, de dados coletados de radiotelescópios. Por isso Blind (Cego), a região estudada é envolta por nuvens interestelares compostas de hidrogênio atômico neutro (H I), as quais não emitem luz para serem analisadas por um telescópio óptico, e um espectro (redshift) de aproximadamente 0.2 (z~0.2) que define essa outra zona analisada, o Aglomerado de Abell. O mapeamento dessa região foi de extrema importância para um melhor entendimento nos processos de evolução das galáxias observados com o EDisCS.
Apesar de os projetos serem distintas linhas de pesquisa, Yara deu foco ao ponto onde os dois se complementam para concluir que o ambiente de aglomerado _mais condensado onde inúmeras galáxias interagem gravitacionalmente entre si e com o ICM (plasma superaquecido do centro dos aglomerados)_ influencia a transformação de galáxias Espirais em galáxias de tipo inicial (E/S0).
O gás cinematicamente perturbado, em movimento desordenado, pelas interações em aglomerados de galáxias prejudica a formação de novas estrelas no disco e, eventualmente, as estrelas antigas do disco, morrem. Assim, com a atividade de formação de estrelas reduzida ao centro, essas galáxias acabam adquirindo as características de tipo inicial (E/S0), mas mantendo os discos gasosos grandes, o que explica a proporção maior desse tipo de galáxia em aglomerados e o porquê possuem discos gasosos tão vastos.
A palestrante afirmou ainda achados “bônus” ao longo dessa pesquisa como a descoberta de 41 novas galáxias do tipo inicial (E/S0) em grandes distâncias e com grandes discos rotativos de gás ionizado, a maioria sendo elípticas e em ambientes de campo (não pertencente a grandes aglomerados e consequentemente sem grandes influências gravitacionais, consideravelmente isoladas).
Dados para as pesquisas foram coletados principalmente dos centros: Very Large Telescope (VTL), Cerro Paranal, Chile; Telescópio Espacial Hubble; New Tecnology Telescope (NTT), La Silla, Chile e ainda pelo Westerbork Synthesis Radio Telescope (WSRT), na Holanda.