ISSN 2359-5191

26/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 11 - Sociedade - Instituto de Biociências
Ciência e Jornalismo discutem sensacionalismo, semelhanças e diferenças

Assim como o telejornalismo muitas vezes trata a questão da violência urbana com descaso, usando do sensacionalismo para atrair o público, o jornalismo científico, considerado um gênero mais sério e exato, enfrenta ao seu próprio modo o mesmo problema . Na cobertura de ciências, este pode ocorrer em todas as etapas da cadeia: há sensacionalismo quando o pesquisador escreve o artigo, quando o assessor elabora o press release e há quando o jornalista escreve sua matéria baseada na entrevista e nos releases. Seja culpa do pesquisador que deseja chamar atenção ao seu trabalho, seja pelas mãos do repórter ao distorcer os dados para “vender” a pauta, o sensacionalismo manipula a informação e foi um dos tópicos discutidos na palestra "Cientistas e Jornalistas: falando a mesma língua".

O Auditório Geral da Zoologia do Instituto de Biociências (IB/USP) recebeu Herton Escobar, repórter do Estado de S. Paulo especializado cobertura de ciência e meio ambiente, que debateu a relação entre duas práticas distintas, que em sintonia, são grandes aliadas na popularização do conhecimento científico. Proporcionar o encontro entre o jornalista e os docentes e alunos faz parte das iniciativas da Comissão de Pesquisa IB em divulgar sua produção. Segundo dados do próprio Instituto, foram publicados no ano de 2012 mais de 320 trabalhos acadêmicos, destacando-se as publicações do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva.

Ainda que não ocupem diariamente as manchetes como política e economia, o noticiário de ciência atrai o interesse do leitor, pois interfere ativamente no cotidiano das pessoas. Além do anúncio pontual das grandes descobertas, o jornalismo aproxima o cidadão do meio científico e mostra a influência do que acontece nos centros de pesquisa no dia-a-dia. Em relação ao resto do jornal, Herton afirma que esta editoria possui sua própria linguagem: “Na [cobertura de] ciência pode-se misturar duas coisas com frequência: há assuntos relevantes e que são intrísicamente interessantes”, diz.

Divulgação científica e  jornalismo diferem principalmente no que compete ao objetivo. Como o próprio nome sugere, a divulgação difunde o conhecimento gerado nos centros de pesquisa, enquanto o segundo publiciza-o. Todavia, Herton ressalva que ao jornalismo científico não é atribuída a função pedagógica da difusão, pois seu grande objetivo é a informar o leitor do que acontece na esfera pública e que de algum modo afeta sua vida, ou seja, atua como interlocutor de fatos e opinões da sociedade.

Para quem especializa-se em ciência, apesar com o constante diálogo entre áreas, não obstante há dificuldades encontradas por ambos os lados para se conseguir chegar a um acordo. Um ponto levantado por Herton é confiança das fontes na cessão da informação. Ao contrário da prática científica de revisão de pares, em que outro especialista do assunto revisa o que foi escrito, a edição da informação é feita pelo próprio jornalista e cabe somente a ele a certeza do que se escreve como verídico e fiel aos fatos.

Parte do discurso referencial de ambos os campos, a busca por objetividade  esbarra na contraposição de opiniões . Ainda que seja creditada à ciência a verdade, o repórter alerta que “é preciso ser imparcial, ouvir diferentes opiniões, mesmo que sejam contrárias ao interesse da ciência”. Outro problema encontrado é a linguagem: enquanto um escreve para outros especialistas, o jornalista produz conteúdo para um leitor leigo, sem domínio dos termos técnicos. Nas palavras de Herton, “deve-se simplificar a ciência, respeitando sua complexidade sem chegar ao ponto de banalizar”.

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