Uma demanda da prefeitura do campus, que não sabia como lidar com o problema da violência desferida por cães, mobilizou a pesquisa coordenada pelo professor Ricardo Dias, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. O estudo, que em sua origem pretendia o cadastro dos animais, bem como de suas condições sanitárias, envolveu não apenas o departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, como também a prefeitura do campus e o departamento de Clínica Médica, que compreende o Hospital Veterinário.
A pesquisa, que foi desenvolvida com uma aluna de doutorado e com dois alunos de graduação, além de voluntários, teve uma primeira fase, caracterizada pelo reconhecimento e pelo monitoramento em campo, que se iniciou em novembro de 2010, possibilitando, desde então, nove contagens, que revelaram um número aproximado de 40 cães livres no campus. Em um segundo momento, foi realizada uma coleta de amostras desses animais para análise laboratorial. Por se tratar de um estudo em andamento, os dados obtidos com essas análises ainda estão sendo avaliados, porém novos resultados são esperados ainda para esse semestre.
Por ora, tem-se que um reconhecimento e um traçado sanitário dos cães do campus permite uma aceitação dos mesmos enquanto participantes do espaço comunitário. No que concerne às agressões, após o estudo percebeu-se que possuíam um caráter pontual, envolvendo apenas três cães. O comportamento agressivo deles era disparado por alguns gatilhos. Desse modo, esses cães foram recolhidos e, após passarem um tempo no abrigo da prefeitura, vivem atualmente em residências. O campus, por sua vez, há 6 meses não registra agressões geradas por cães.
No estudo buscou-se entender a dinâmica da população de cães. Apesar de o campus ser murado, há os poros, os portões, através dos quais os cães entram e saem. Porém aqueles que estão aqui há mais tempo fazem uma espécie de escudo contra novos cães. “Talvez seja essa a grande justificativa para a manutenção de uma população monitorada aqui dentro”, comenta o professor, “é possível que os cães que entram não encontrem espaço e saiam”
Dias entende que o problema das populações animais urbanas já não pode mais ser deixado de lado, sob o risco de se tornar muito grande. Para ele “é um processo de mudança de paradigmas. Talvez estejamos no ponto de aceitarmos a realidade ”. O professor explica que a experência dos canis municipais não tem se mostrado satisfatória, pois os cães passam muito tempo nesses locais, desenvolvendo problemas comportamentais, além dos já esperados problemas sanitários.
No entendimento do professor, o campus com seus cães pode ser encarado como uma miniatura de um problema que acomete as cidades em geral .“Felizmente, não temos aqui algumas doenças preocupantes, o que poderia ser bastante grave […] e teremos que aprender a conviver com esses cães. Lógico, tentando acabar com a causa, coibindo o abandono de forma mais enérgica. E monitorar esses animais”, expõe.
Um legado do projeto seriam os protocolos deixados com a prefeitura do campus. Dentre eles, o de aproximação com os cães, de manejos específicos, de treinamentos, de vacinação etc. Além disso, o estudo, que começou como projeto de pesquisa, acabou possibilitando um projeto de extensão. Atualmente, existe um programa de monitoramento de animais dentro do campus, o Promac, que agrega tanto prefeitura do campus e hospital veterinário quanto cuidadores.
Os cuidadores são considerados no projeto na medida em que possibilitam a permanência dos cães no campus, como provedores de alimentos. Um enfoque da pesquisa foi dado à fonte de alimentação dos cães, analisando latas de lixo e pontos de venda de alimentos. As conclusões dizem que a principal fonte de alimentação “é aquela sobrinha que as pessoas deixam próximas aos locais de venda de alimentos. Aquele pedacinho de salsicha que caiu, o restinho de carne que sobrou 'do bandejão'... Se uma pequena parcela de pessoas faz isso, já é suficiente para manter a população de cães”, comenta Dias. Além disso, há as pessoas que levam comidas aos cães, sejam restos, seja ração. O professor, entretanto, alerta para os riscos desses alimentos, que muitas vezes são deixados expostos, podendo ser prejudiciais aos animais, além de atrair pombos, ratos e insetos. A solução, entretanto, não seria interromper a oferta já existente de alimento, pois não resolveria o problema, apenas o exportaria, uma vez que os cães procurariam fontes de alimentos em outras localidades.
As propostas futuras dos projetos são de realização de eventos, de treinamento de pessoal e de comunicação institucional com as pessoas.