João Bosco Pesquero, coordenador do projeto “Atletas do Futuro”, proferiu palestra na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE) para explicar as influências que o estudo da genética têm nas práticas esportivas. Segundo os testes e observações realizados pelo grupo de pesquisadores que participam do programa, saber o que está por trás dos genes de um indivíduo pode prever em qual esporte ele tende a se destacar em um futuro próximo.
Estudar genomas significa analisar a constituição genética de cada organismo como um todo. Portanto, engloba algo mais amplo do que estudar apenas um gene específico e seus efeitos. Pesquero, biólogo molecular da Unifesp, trabalha em conjunto com profissionais de diversas universidades brasileiras no que ele intitulou como “associação da genômica com o esporte”. Ou seja, ao lado de treinamentos, força de vontade e nutrição, os genes estão diretamente relacionados às habilidades esportivas de cada indivíduo.
O principal objetivo do “Atletas do Futuro” é criar bancos de dados genéticos acerca dos atletas de elite da atualidade e das crianças que estão se iniciando nas práticas esportivas. Isso é feito visando entender quais fatores de seus (atletas de elite e crianças) DNAs implicam em suas perdas e seus ganhos de funções. Também é alvo do projeto comparar os rendimentos dos esportistas com o da população em geral, buscando entender quais as habilidades mais comuns e raras do campo esportivo.
Pesquero explicou o porquê de o momento presente ser o ideal para o avanço na área de pesquisa genômica. Segundo ele, “estamos tendo uma revolução em tecnologia. Revolução esta que representa a mudança na tecnologia de fazer sequenciamento de DNA”. Em questão de dez anos, o custo de estudar genomas passou de US$ 3 bilhões para US$ 5 mil. Graças a este significativo aumento na acessibilidade da pesquisa genômica, “hoje estamos começando a entender melhor o tanto de informação que temos em nossos genomas”, conforme contado pelo pesquisador.
Além do esporte de alto nível
O pesquisador da Unifesp levantou uma importante questão durante a palestra. Os estudos realizados pelo “Atletas do Futuro” têm alcances que vão além da jovem promessa esportiva ou do clube que quer investir nos estudos genéticos para encontrar talentos. O aspecto da saúde e do bem estar também é beneficiado com o projeto, conforme explicou Pesquero. “Adulto também faz esporte. Não são só crianças ou atletas de alto nível. Eu quero saber qual é o melhor esporte para mim. Qual esporte se adapta à minha estrutura fisiológica, para não ter problema de articulação, de tendão”, comentou. “Ou seja, estes estudos também são muito importantes para quem quer fazer esportes recreativos.”
O quadro social também é alvo do projeto, na medida em que não há uma olhar exclusivo na formação de atletas de alto rendimento. “Estas informações genômicas relacionadas com esporte não têm o objetivo de eliminar ninguém da atividade esportiva. A ideia é usar esta informação para trazer mais gente pra prática esportiva”, esclareceu Pesquero. “À medida que você direciona o tipo de treinamento a que uma determinada pessoa vai se adaptar melhor, obviamente ela irá aderir à prática esportiva”.
O coordenador do projeto encerrou a palestra com um adendo. Além de possuir orientação profissional oriunda de estudos e da pesquisa genômica, estar focado nos objetivos pessoais e ter força de vontade para completá-los é fundamental. Conforme dito por Pesquero, “ter determinação para realizar uma determinada coisa faz uma diferença enorme no resultado do treinamento de um atleta”.