São Paulo (AUN - USP) - Crianças portadoras do vírus HIV apresentam maior propensão a adquirir doenças bucais. É o que revela um estudo feito na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, coordenado pela professora Marina Gallottini Magalhães. "Como o paciente fica com o sistema imunológico debilitado, ele pode apresentar uma série de doenças oportunistas, e muitas delas ocorrem na boca da maioria dos pacientes", explica a professora.
A pesquisa teve como base exames clínicos odontológicos realizados com um grupo de cerca de 30 crianças soropositivas para o HIV atendidas regularmente no Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape), localizado junto à faculdade. "As manifestações bucais associadas à infecção pelo HIV são clássicas, existem desde a descrição da aids em 1981. Muitos estudos em relação a isso são feitos no mundo, com homossexuais e usuários de drogas infectados. Mas pacientes minoritários, como crianças e mulheres, que hoje tendem a aumentar, costumam ser pouco estudados", apontou Marina Gallottini Magalhães, que também coordena o Cape. Por isso achou que seria interessante analisar a saúde bucal dos pacientes da faixa pediátrica.
A partir da pesquisa, pôde-se então constatar que essas crianças, com idade entre 2 e 13 anos, têm uma tendência muito grande de apresentar doenças como a candidíase, conhecida popularmente como "sapinho", e a parotidite, caracterizada pelo aumento bilateral de parótida (glândula salivar maior situada atrás da orelha). Elas também costumam apresentar alto índice de cáries, porque tomam remédios veiculados em xaropes ricos em açúcar.
Para a comunidade científica e profissionais não habituados a tratar desse tipo de paciente, a pesquisa é de grande importância. Segundo a professora, eles devem saber que tais infecções ocorrem com mais freqüência na criança soropositiva e que servem como indicativo de que a imunodepressão do indivíduo se acentuou naquele momento, por exemplo. "Assim, o diagnóstico e o tratamento podem ser realizados o mais rapidamente possível". Ela explicou que o diagnóstico precoce traz um tratamento mais simples, com drogas tópicas, e menor sofrimento à criança.
É fundamental também que o paciente tenha um acompanhamento clínico regular, com retornos a cada três ou quatro meses, para evitar o aparecimento das doenças ou a sua progressão. O Cape, além de pacientes HIV positivos, atende também a pessoas com outras moléstias infecto-contagiosas, portadores de distúrbios neuro-psicomotores, como síndrome de Down e paralisia cerebral, ou portadores de doenças sistêmica-crônicas, como diabéticos insulino-dependentes, transplantados renais, etc. O horário de funcionamento é das 9h às 12h e das 14h às 18h, de segunda à sexta. A clínica fica na Av. Lineu Prestes, 2227, e o telefone para informações é 3818-7838.