São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências (IB) da USP descobriu, recentemente, indícios de variabilidade genética entre abelhas da mesma espécie, que vivem em habitats diferentes. "Ainda é cedo para dizer, mas é possível que tenhamos encontrado duas subespécies, ou, quem sabe, espécies diferentes", afirma uma das coordenadoras do projeto, Maria Cristina Arias.
O projeto vem sendo desenvolvido desde 97 pelo Laboratório de Genética e evolução de Abelhas da USP. O foco dos estudos é sobre a Plebeia remota, encontrada principalmente no sul e sudeste do Brasil. A espécie faz parte da família das abelhas sem ferrão, nativas do América do Sul, de grande importância para a polinização da Mata Atlântica.
Foram estudadas duas populações específicas: uma situada no litoral norte de São Paulo e outra no centro-sul do Paraná. Tanto por meio de exames de DNA quanto pela comparação de características físicas - como a composição dos hormônios sexuais (ferormônios) e dos produtos fabricados pelas abelhas - foram verificadas diferenças significativas entre as abelhas de São Paulo e do Paraná.
Segundo a professora, uma das causas da diferenciação seria o isolamento geográfico das duas populações. "Devido a diferenças climáticas e de vegetação entre os dois estados, pode estar ocorrendo com as abelhas um processo evolutivo que resultaria no surgimento de espécies diferentes", afirma. Um dos problemas está na definição de espécie – de acordo com o conceito clássico, dois indivíduos são de espécies diferentes quando, ao se cruzarem, não produzem indivíduos férteis. No caso estudado, uma população não teria contato com a outra, o que dificulta a verificação desse isolamento reprodutivo, e classificação científica de cada população.
De qualquer maneira, o mecanismo de formação de novas espécies (especiação) observado nas abelhas Plebeia remota implica um planejamento diferenciado de preservação da fauna e flora da mata atlântica. "Com a destruição das matas, estamos perdendo em número de ninhos e de espécies", afirma a professora. De acordo com Maria Cristina, o que muitas vezes acontece é um planejamento ambiental que leva em conta somente as espécies a serem preservadas, e que ignora as diferenças existentes entre os indivíduos da mesma espécie. O projeto evidencia a necessidade de preservar tanto o ecossistema existente no Paraná quanto o de São Paulo, para que não haja perda no patrimônio genético.