São Paulo (AUN - USP) - A partir de resíduos de papel, pesquisadores da Escola Politécnica da USP estudam produzir, até o final do ano, um tipo de solo que poderá ser usado com fins comerciais.
A pesquisa, desenvolvida pelo Laboratório de Mecânica dos Solos, investiga as características geo-mecânicas do resíduo de papel, ou seja, aquelas propriedades que podem tornar possível o uso do material em substituição a determinadas espécies de solo.
O professor Fernando Marinho, diretor do laboratório e orientador do grupo de pesquisa, esclarece que, a princípio, o estudo deve apurar certas características dos restos de papel também presentes na terra, como a capacidade de retenção de água, os níveis de deformação, a resistência à pressão, entre outras.
O solo produzido com base no resíduo de papel poderá ser usado, por exemplo, como cobertura de aterros sanitários e material isolante para produtos tóxicos (ácidos, por exemplo). A aluna de mestrado Paula Fernanda Teixeira, envolvida na pesquisa, diz que países como Canadá e Estados Unidos já utilizam o "solo de papel" com essas finalidades.
No Brasil, uma grande quantidade de sobras da indústria de celulose é armazenada com custos elevados, já que não se atribui nenhum valor ao material. Caso a pesquisa da USP obtenha sucesso, esse problema será em parte resolvido, com a vantagem de que solos "mais caros" – como a argila, por exemplo, – não precisarão ser usados para cobrir aterros sanitários, o que acaba reduzindo custos.
A aluna Paula Fernanda explica que, durante o processo de transformação, o papel inicialmente é triturado, depois recebe tratamento a vácuo e passa por rolos, que o transformam em uma espécie de lodo. Em seguida, o produto obtido é secado e adquire um aspecto esfarelado, parecido com um solo ressecado.
"O fato de o resíduo de papel ser um material poroso é a maior qualidade do solo que estamos produzindo", explica o professor Fernando Marinho. "É um solo orgânico, em que podem nascer plantas, por exemplo".
De acordo com o professor, o solo obtido a partir de restos de papel pode ser aproveitado diretamente na agricultura. Estudos sobre o assunto já foram realizados pela ESALQ (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"), da USP de Piracicaba.