ISSN 2359-5191

21/03/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 01 - Sociedade - Museu de Arte Contemporânea
Pesquisa e exposição questionam identidade na atualidade a partir de obras de arte

São Paulo (AUN - USP) - O olhar no espelho poderia ser visto como um ato puramente narcisista. No entanto, no cenário urbano da velocidade, onde o indivíduo se perde na disritmia do tempo e do espaço, essa contemplação se transforma em possibilidade de reflexão. Em uma espécie de reencontro, o indivíduo se observa procurando sua identidade. E quando a experiência é feita por uma artista, Narciso vira poeta.

Esse mergulho em si mesmo é um dos temas abordados na pesquisa feita pela professora da USP, Katia Canton. Após organizar um banco de dados com diversos artistas de destaque na década de 90, a professora fez, em 96, um mapeamento de suas observações, nascendo assim o projeto Tendências Contemporâneas. Que relaciona arte, comportamento e história, e traça as principais temáticas dos artistas que começaram a atuar nessa última década.

O projeto resultou, primeiramente, em uma série de exposições chamada Heranças Contemporâneas, realizadas em 1997, 98 e 99. Sua última publicação intitulada Espelho de Artista, livro infanto-juvenil, foi lançada juntamente com a exposição Auto-Retrato: espelho de artista, e são ambos produtos de sua análise. A exposição teve início em março, no Centro Cultural FIESP, e conta com Katia como curadora.. Por fim, o livro Novíssima Arte Brasileira, lançado em outubro do ano passado, coloca as reflexões e conclusões de sua pesquisa de maneira clara, relacionando o mundo da arte com diversos processos em andamento no mundo contemporâneo.

Graças ao seu banco de dados, a professora aponta um movimento de resgate e, ao mesmo tempo, recriação da tradição do auto-retrato na década de 90. Os novíssimos artistas ousam com fotos, montagens, colagens e até vídeo, na tentativa de captar seus traços físicos e emocionais. No entanto, a criação não é uma simples busca pelo individualismo e originalidade, tão freqüente nesse último século, mas sim uma tentativa de pertencer à história. Em Heranças Contemporâneas, fica bem claro esse processo em que o artista desenha um percurso de continuidade, adotando referências sólidas para sua produção. É o resgate da importância da memória.

O auto-retrato tem diversos desdobramentos na reflexão do indivíduo. O primeiro deles é o estranhamento, sensação à qual o indivíduo urbano é submetido, ao ser cercado pelas mudanças nas tecnologias de comunicação, virtualidade e exigências da velocidade no tempo e no espaço. A partir daí, a estrutura do homem moderno muda bruscamente, caracterizando-se por, justamente, a ausência de uma estrutura sólida. Não há mais o senso de ideal, moral, costume. O que acaba por causar uma fragmentação do ser humano, quanto à idéia dele mesmo. Essa crise de identidade é um ponto muito freqüente nas representações artísticas do eu, nos auto-retratos.

Além do estranhamento, um outro ponto explorado pela professora é o da dicotomia identidade/anonimato. Materializada principalmente por meio da distorção de formas, essa reflexão se estende ao plano sócio-político. A necessidade do artista de estabelecer uma ligação íntima e profunda com seu público entra em choque com o imenso anonimato das relações humanas nos grandes centros urbanos. A constante busca pela individualidade é cada vez mais sufocada por essa realidade. E o mais recente fator agravante é a internet, com a qual o homem estaria perdendo seu direito à privacidade, em um ambiente onde todos seus passos são catalogados e registrados.

Esses temas, somados a outros – como o da efemeridade da vida, da degradação do corpo e da sensibilidade feminina – formam ao todo 12 pontos abordados na publicação de Katia Canton, Novíssima Arte Brasileira. Todos tomando como base as obras selecionadas do banco de dados para levantar questões atuais, não só do mundo da arte, mas da civilização contemporânea.

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