São Paulo (AUN - USP) - Quatro comunidades do Alto Solimões, na Amazônia, já contam com a eletrificação solar no seu cotidiano. A introdução da nova tecnologia faz parte de uma iniciativa do Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. Esse projeto de energização, concretizado em dezembro do ano passado, é apenas uma etapa de um trabalho interdisciplinar que visa a melhora da qualidade de vida na região.
O primeiro passo foi a energização das escolas. Esse fato possibilitou que as pessoas pudessem estudar à noite, já que trabalham de dia, melhorando o nível de educação. Posteriormente, os centros comunitários e igrejas receberam energia e, por fim, equipamentos de rádio-comunicação VHF foram introduzidos.
Nos primeiros contatos com a população ribeirinha, em fevereiro de 1998, a equipe técnica procurou se envolver no cotidiano, respeitando a cultura local. "Aos poucos você vai ganhando confiança, mas temos que ver o outro como um igual, valorizar a cultura deles como valorizamos a nossa", afirma Roberto Zilles, professor do IEE e coordenador do projeto de energização. Depois dessa aproximação, a proposta de iluminação foi apresentada. A equipe utilizou uma linguagem bem simples, pautando-se em analogias e símbolos locais. Isso permitiu uma fácil assimilação e aceitação da nova tecnologia por parte dos futuros usuários.
Houve a preocupação em explicar que não se tratava de mais uma benfeitoria de candidatos a cargos políticos em troca de votos, o que é comum na região. Optou-se então pela adoção de um processo participativo, aumentando o interesse dos moradores. A comunidade envolveu-se em todas as etapas de implantação, desde o transporte, a instalação, até a gestão dos equipamentos. "Foi comunicado que a nossa participação acabaria depois da implementação do projeto", diz o professor Zilles, daí a importância do treinamento dos ribeirinhos. Agora eles contam apenas com visitas esporádicas para monitoramento.
Com um trabalho paralelo coordenado pela doutoranda Maria Cristina Fedrizzi, esses processos foram acompanhados pela perfuração de poços e instalação de sistemas para o abastecimento de água potável. As comunidades expressavam um grande desejo em obter água limpa, principalmente em época de estiagem "quando a água é lamacenta e tem gosto ruim, gosto de terra, e fica mais longe de casa", segundo depoimento local. Com o tratamento da água as condições de saúde melhoraram muito. Antes a água era consumida in natura, diretamente dos rios, o que aumentava o risco de contaminação de doenças.
Com a finalização da etapa de eletrificação solar, esforços estão sendo dirigidos desde o começo desse ano em outro projeto, complementar ao primeiro. Agora o objetivo é promover o desenvolvimento sustentável com o fortalecimento da agricultura familiar, do comércio de produtos regionais e do incentivo à educação. Com previsão de conclusão em dezembro de 2002, essa nova proposta visa a dinamização social. De acordo com o professor Zilles, "o objetivo é fixar a população na terra". Ele ainda afirma que os resultados animadores da experiência apresentada mostram que um passo importante já foi dado nessa direção.
Essas atividades fazem parte de um projeto mais abrangente, o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Alto Solimões (Prodesas), proposto pelo Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa). O financiador é o Ministério da Ciência e Tecnologia, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel/ PNUD).