São Paulo (AUN - USP) - O I Seminário Internacional sobre Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente foi a primeira tentativa de estabelecer um diálogo sobre os impactos sociais e ambientais da nanotecnologia dentro do ambiente acadêmico no Brasil. Apesar de ser, de certa forma, uma evolução da microtecnologia, a nanotecnologia abrange um campo maior. Por lidar com átomos e moléculas diretamente, em uma escala mil vezes menor, ela tem recebido uma atenção diferenciada de empresas, governos e alguns cientistas. Motivados pelo edital 13/2004 do CNPq, pesquisadores das ciências humanas se reuniram para formar a primeira rede de pesquisas em nanotecnologia, sociedade e meio ambiente, a Renanosoma. O seminário foi organizado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), foi e realizado na Casa de Cultura Japonesa, na USP, nos dias 18 e 19 de outubro.
Segundo Paulo Martins, sociólogo e integrante da rede, os riscos da nanotecnologia não foram suficientemente avaliados. Algumas substâncias já conhecidas poderiam se comportar de maneira diferente em escala nanométrica. O motivo dessa incerteza é a ausência de aparelhos de medição nessa escala, os quais estão em desenvolvimento, e a criação de produtos que contam com nanopartículas.
O sociólogo levanta a questão do papel de pesquisadores de nanociência e nanotecnologia que não investigam os pontos negativos que podem estar presentes nessas áreas. Eles apenas conduzem trabalhos em suas áreas de especialidade: “estão fazendo ciência básica e tecnologia para o desenvolvimento de produtos”. Paulo Martins afirma que, essa avaliação passa a existir com a participação de pesquisadores das ciências humanas. Afirma também que a polêmica dos organismos geneticamente modificados seria um sinal de alerta para a sociedade, que deve participar mais do processo de desenvolvimento da nanotecnologia.
Para Kenneth Gould, professor do departamento de sociologia da Universidade St. Lawrence, no Estado de Nova York, EUA, há um mito sobre a solução de problemas sociais com novas tecnologias. Para ele, o desenvolvimento de tecnologia não traz, necessariamente, benefícios à sociedade. Isso ocorre porque as mudanças tecnológicas partem de um processo de decisões restrito, e apenas alguns interesses são representados. Na opinião de Gould, a sociedade civil deveria ter um interesse ativo pela tomada de decisões, pois existem diferentes objetivos tecnológicos ancorados em diferentes interesses. Ele também chama a atenção para o risco do desenvolvimento tecnológico se tornar anti-social, na medida em que áreas como educação e saúde podem perder recursos. Esta situação se agrava no caso das novas tecnologias, pois elas exigem investimentos maciços. Por isso, as decisões deveriam ser democráticas. “O que o Brasil precisa da nova tecnologia?”, pergunta. O aumento do Produto Nacional Bruto (PNB) não gera, necessariamente, desenvolvimento. Para Gould, existe também o risco da extinção de vagas de trabalho, num processo semelhante ao da aplicação da robótica às linhas de montagem industriais.
Mais informações:
http://renanosoma.incubadora.fapesp.br