São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa desenvolvida no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) verificou a presença de elementos ligados ao grupo da platina (platina, paládio e ródio) no solo às margens da Rodovia dos Bandeirantes, que liga a capital ao interior do estado de São Paulo. “Identificamos um valor acima do considerado ‘natural’, o que caracteriza os catalisadores automotivos como fonte destes elementos, já que estes são empregados em sua composição”, explica a pesquisadora Cláudia Petronilho Morcelli, autora do estudo – que teve a orientação da professora Ana Maria Graciano Figueiredo, do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq) do Ipen.
Para realizar o estudo, as pesquisadoras consideraram tanto os aspectos físicos do local de estudo (como o sentido preferencial dos ventos, que favorece o deslocamento de partículas), quanto os comportamentais. “Analisamos locais com diferentes estilos de direção, como trechos de pedágios, onde as pessoas diminuem a velocidade e depois aceleram, além de locais onde há tráfego intenso e outros onde o trânsito flui melhor”, relata Ana Maria.
“Os elementos do grupo da platina, presentes nos conversores catalíticos, têm a função de transformar, através de reações, os gases formados pela queima do combustível em gases menos nocivos para a saúde. Porém, com o uso, há um desgaste na estrutura dos catalisadores, que varia de acordo com sua idade (a média de vida útil é de 80.000 km rodados) e com o estilo de dirigir do motorista” explica Claudia Morcelli.
Emitidos tanto na forma de metal puro quanto em óxidos, estes elementos vão se acumulando no solo adjacente à rodovia. “É importante saber por quais transformações químicas o paládio, a platina e o ródio vão passar. A forma química final destes elementos, a sua transformação no meio ambiente e a repercussão nos organismos vivos é de grande interesse e ainda pouco conhecida”, projeta Cláudia.
Existe ainda a possibilidade destes elementos afetarem outros locais, como, por exemplo, as plantações ao longo da rodovia. Na forma em que são emitidos, eles são inertes (não reagem), mas compostos como a hexacloroplatina e complexos de tetracloroplatina, além do paládio, são potenciais causadores do problema. Já estudos feitos em ratos apontam maior incidência de tumores na presença de alguns compostos de paládio e ródio no organismo.
Projeção para o futuro
No entanto, Ana Maria Graciano lembra que a quantidade verificada na Rodovia dos Bandeirantes ainda é muito pequena. “Mesmo encontrando concentrações bem acima das naturais, esta quantidade ainda é muito baixa. Os valores mais altos que captamos são de 60 partículas por bilhão (p.p.b.), enquanto os valores naturais estão na faixa de 0,04 p.p.b”, acrescenta a pesquisadora.
Os dados foram obtidos graças a uma técnica denominada “Espectrometria de Massa com Fonte de Plasma Induzido”, utilizada em centros de pesquisa do Ipen, que apresenta como vantagem um elevadíssimo grau de sensibilidade de captação dos elementos (que chega a uma partícula por quatrilhão), além do curto tempo de análise.
A importância da pesquisa, já realizada há anos em diversos países da Europa, nos EUA e no México, está em projetar um futuro impacto ambiental que o acúmulo destes elementos ao longo dos anos pode causar. “Devemos conscientizar principalmente os fabricantes, que poderiam buscar outras tecnologias ou aperfeiçoar esta atualmente utilizada, já que a importância dos catalisadores automotivos é indiscutível”, aponta Cláudia, lembrando que os elementos do grupo da platina são considerados “metais nobres”, de alto valor agregado, o que pode representar também um possível impacto econômico.