Recentemente, Vanessa Sartorelli Medeiros, mestre pela Escola Politécnica da USP e pesquisadora do CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) defendeu sua pesquisa “Análise estatística de eventos críticos de precipitação relacionados a desastres naturais em diferentes regiões do Brasil". O trabalho consiste no estudo de quatro casos, todos marcados pelas inundações: Vale do Itajaí (2008); São Luís do Paraitinga (2010), Vale do Mundaú (2010) e Região Serrana do Rio de Janeiro (2011).
A metodologia usada foi a mais padronizada possível, Vanesca estudou as chuvas que antecederam cada um dos eventos, os dados pluviométricos do mês, estimou os períodos de retorno e classificou as chuvas em uma escala categórica (leve, moderada, severa e extrema) através do SPI (Standardized Precipitation Index,“Índice padronizado de precipitação”), que é utilizado nos EUA para a classificação das secas, mas que também pode ser usado para a categorização das chuvas.
Uma das contribuições da análise estatística realizada foi comprovar uma observação feita há décadas. Azis Ab’Saber, falecido em 2012, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo e detentor das mais altas honras científicas que este país pode oferecer, percorreu o Brasil, do Chuí ao Caburaí e categorizou o que hoje também é conhecido como “domínios morfoclimáticos”.
Uma conceituação não somente do relevo, mas também da hidrografia, do clima, da vegetação, é a qualificação que permite ver claramente o até que ponto os aspectos da natureza são interligados. O geólogo também classificou os regimes de chuva, tão dispares pelo país. Abundante e presente no verão paulista e escassa – mas ainda presente – no inverno maranhense. Esse regime variado de chuvas foi a confirmado pelo trabalho de Vanesca.
Outra contribuição de seu trabalho é polêmica. Segundo José Rodolfo Scarati Martins, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e membro da banca de avaliação do mestrado: a medida usualmente relacionada a chuvas, o período de retorno (Tr), parece não ser tão precisa. O período de retorno é, basicamente, o tempo (no caso, medido em anos) que um evento demoraria para ser igualado ou superado. Por exemplo, uma chuva com período de retorno de 100 anos, estatisticamente demoraria um século para se repetir, consequentemente, seria um evento raro. Entretanto, os estudos de caso mostraram que em mais de uma ocasião chuvas com Tr grandes se sucederam num curto espaço de tempo.
A pesquisa também permitiu o que pode parecer trivial: afirmar, afinal, se uma chuva foi de fato forte ou não. Com uma divisão categórica e padronizada a falta de certeza que permite episódios que se repetem anualmente e deixam culpar “o acaso” por desastres como os estudados neste trabalho, ou seja, como nas palavras do professor da USP de São Carlos e também membro da banca avaliadora, João Luiz Boccia Brandão: “...a culpa não é de São Pedro”.