ISSN 2359-5191

13/05/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 16 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Uso de células-tronco embrionárias é discutido no Instituto Butantan

Em 2012, o Prêmio Nobel de Medicina foi o resultado de uma grande descoberta: o médico japonês Shinya Yamanaka conseguiu identificar os fatores necessários para a reprogramação de células adultas em células semelhantes às embrionárias. Para a surpresa dos cientistas, a introdução de apenas quatro genes de transcrição foi necessária para transformar os fibroblastos nas chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês). É neste contexto de inovações que Lygia da Veiga Pereira discutiu o tema na palestra “Células-tronco embrionárias em terapia e pesquisa”, realizada no final de abril no Instituto Butantan. Professora do Instituto de Biociências da USP, Lygia também coordena o Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE), responsável por produzir a primeira linhagem destas no Brasil em 2009.

Das iPS de Yamanaka, será possível um dia chegar em terapias e estudos farmacológicos personalizados, nos quais as células seriam induzidas a diferenciar-se em células da medula, por exemplo, a fim de serem usadas no tratamento de leucemia. Outra possibilidade é a indução para que uma iPS manifeste uma doença e, a partir de análises em laboratório, são testadas drogas personalizadas para um hipotético tratamento. O que possibilita tal amplitude de possibilidades de uso das células-tronco, principalmente nas embrionárias (as chamadas CTE), reside em sua capacidade de autorrenovação ilimitada e produção de descendentes altamente diferenciados, como neurônios e linfócitos.

O foco de pesquisa de Lygia é justamento as CTE, alvo de muitos debates no meio científico e político, mas de grande aplicação em variados ramos da ciência. “Muito antes destas células-tronco [embrionárias] serem usadas para tratar alguma doença, estas já têm um enorme valor como ferramenta de pesquisa básica, seja para produzir os modelos animais de doenças, seja para se ter um modelo in vitro de diferenciação celular e desenvolvimento embrionário”, afirma Lygia. Em seu laboratório, o principal trabalho realizado é a produção e distribuição de CTE para pesquisa básica, enviadas para diversos centros de estudo brasileiros.

Modelos animais de doença

Um exemplo do avanço proporcionado pelas células-tronco embrionárias é o estudo em modelos animais, ou seja, são criadas em laboratório cobaias que desenvolvam os sintomas de doenças genéticas semelhantes às humanas. Lygia cita o exemplo das pesquisas em seu laboratório com modelos para a Síndrome de Marfan, doença genética causada por uma mutação no gene da fibrilina, que quando alterado causa má-formação muscular, óssea e cardiovascular, além de um fenótipo caracterizado por membros alongados.

(Fonte: Profª Lygia da Veiga Pereira)

Como o estudo em pacientes humanos é limitado, é induzida uma alteração no gene específico, que substituirá algumas cópias normais em CTE de camundongos, por exemplo.  Estas células são injetadas em embriões e ao longo do seu desenvolvimento serão incorporadas para gerar camundongos quimeras, formados parcialmente das células do zigoto original e das células-tronco mutadas. “O mais importante é que estas células embrionárias tenham participado da linhagem germinativa, para que quando cruzarmos estes animais, esta mutação seja herdada”, explica a pesquisadora.

Após uma geração, a ninhada deste cruzamento será portadora da mutação do gene da Síndrome de Marfan os sintomas semelhantes aos humanos. Além de possibilitar o estudo de funções gênicas e da progressão da doença, a professora ressalta que esta técnica permite que “uma nova terapia, que funcione nestes animais, possa ser uma candidata para ser testada em seres humanos”. Em 2007, tal método de pesquisa rendeu o Prêmio Nobel de Medicina para três geneticistas que divulgaram suas descobertas relacionadas às células-tronco embrionárias e a recombinação do DNA em mamíferos.

Expectativa x realidade

Grandes expectativas são geradas a respeito do uso terapêutico das células-tronco, e por isso, estas recebem grande atenção da mídia, como vista em exemplos de capas de revista que anunciam seu uso efetivo no tratamento de doenças como diabetes, infarto e até Alzheimer. Por mais que as reportagens sejam boas e densas, apenas em seu final que é mencionado que tais terapias estão ainda fase de testes em laboratório,  longe de serem aplicadas no tratamento de seres humanos.

Artigo mostra a presença de clínicas ao redor do mundo que oferecem supostos tratamentos com células-tronco. Além disso, mostra também a média dos preços de tais tratamentos. (Fonte: Profª: Lygia da Veiga Pereira)

Além do sensacionalismo da mídia, criou-se o chamado “turismo de células tronco”. Ao redor do mundo, diversas clínicas utilizam de um serviço de captação de pacientes para oferecer tratamento para doenças como esclerose múltipla, Parkinson e até aids, que chegam a custar mais de US$ 30 mil. Além destas clínicas não divulgarem artigos com suas descobertas, não há base científica que evidencie sua veracidade. Estes casos são possibilitados por brechas na legislação, pois novos usos de células-tronco ainda não foram regulamentados. Na opinião de Lygia, tais terapias não podem ser comercializadas e “só podem acontecer no âmbito de pesquisa clínica, para a proteção destes pacientes”.

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