Privadas de uma série de confortos de que poderiam dispor socialmente e sujeitas às dificuldades advindas quando se aprofunda as relações interpessoais, algumas pessoas, pertencentes a grupos sociais privilegiados, optam por um modo de vida alternativo ao se mudarem para uma ecovila. Para a pesquisadora Rebeca Roysen, elas têm buscado assumir uma mudança cultural, com novas formas de se relacionar com o outro, com a natureza e com a vida, “revivendo os sentidos e cuidando melhor do planeta”. Em sua dissertação de mestrado, defendida em abril no Instituto de Psicologia da USP (IP/USP), Rebeca analisa a construção de uma cultura alternativa a partir das ecovilas.
A pesquisadora define ecovilas como comunidades intencionais sustentáveis. Isto quer dizer que consistem na união de alguns grupos de pessoas que pretendem assumir um estilo de vida com baixo impacto ambiental e que beneficie a relação com o outro. Tais comunidades conservam certos aspectos do ideário das comunidades alternativas hippies das décadas de 1960 e 1970. Rebeca aponta o pacifismo, a autogestão, as práticas ecológicas, o reforço dos laços comunitários, as experiências poéticas ou transcendentes e a busca do autoconhecimento como os pilares sobre os quais elas se estabelecem.
O fator financeiro como um obstáculo à adoção de um modo de vida alternativo é assinalado pela pesquisadora, que manteve contato semanal, entre março e novembro de 2011, com moradores da Comunidade Andorinha, ecovila que foi seu objeto de estudo. Para Rebeca, o preço do lote no lugar, que acredita se situar entre R$45 e R$50 mil, é um exemplo de filtro social. No entanto, ela refuta a impossibilidade de se viver de maneira alternativa com poucos recursos, citando a própria comunidade extrativista como reflexo disto. “O que é preciso é estreitar o laço entre estas experiências [alternativas]”, declarou.
Em seu estudo, a pesquisadora afirma que a cultura da “sociedade de consumo” faz com que os indivíduos percam o vínculo com a experiência dos sentidos, o espaço e as pessoas ao redor; suas vidas se tornam fragmentada e individualizada. Deste modo, elas buscam a felicidade por meio do consumismo e só conseguem formar relações superficiais. Conforme Rebeca, relações superficiais exigem cooperação e cordialidade também superficiais, o que impossibilita o conflito, pelo qual se pode “ouvir e acolher as diferenças”. Uma postura contemplativa diante da natureza, em sua perspectiva, tem o potencial de transformar o que os indivíduos acreditam que são as suas necessidades básicas.
A pesquisadora distingue também a importância das experiências prévias de moradores da Comunidade Andorinha na determinação deste novo modo de vida que eles escolheram seguir. Ela conta que muitos deles tiveram contato anterior com outras pessoas que viviam de forma alternativa. Portanto, foram apresentados a novos valores, modelos espirituais e teorias alternativas por meio de tais pessoas. Segundo a pesquisadora, a mudança interna é muito mais importante neste processo do que o engajamento político ou ecológico, deve haver a abertura do indivíduo a esta nova experiência.