Antonio Dimas foi o responsável pelo primeiro Café Acadêmico da série “Um Autor, Uma Obra”, realizado no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, em comemoração aos 50 anos da unidade. Ele disse, em tom de brincadeira, que apresentar um trabalho sobre Gilberto Freyre na USP tinha um certo “sabor de vingança”. De acordo com o pesquisador, o pernambucano sofria um “veto silencioso” por conta da sua orientação direitista. “O que é compreensível”, falou Dimas, “em um país de polaridades políticas”.
Ao começar a sua pesquisa, Antonio Dimas se propôs a procurar o Gilberto Freyre que estava dentro da Biblioteca Mário de Andrade. Não as obras do próprio autor, que podem ser achados em qualquer sebo ou livraria, mas livros escritos por Freyre que tivessem sido anotados por outros intelectuais. Em suma, Antonio Dimas queria encontrar as impressões que o pernambucano havia deixado. O que ele descobriu nas anotações escritas nas margens dos livros do antropólogo.
No Café Acadêmico, o pesquisador se centrou principalmente no volume de Casa Grande & Senzala que havia pertencido ao historiador Yan de Almeida Prado. Ainda que o próprio Gilberto Freyre tenha sido acusado de conservador, Ian de Almeida Prado era em um nível acima, e boa parte de suas críticas ao livro de Freyre, anotadas nas margens de seu exemplar, a lápis, são em virtude de vetos morais. A “promiscuidade sexual” presente em Casa Grande & Senzala incomoda ao historiador, filho de família tradicional em São Paulo.
Em suas observações, Prado afirma faltar organização a Freyre. Contudo, ele afirma que o pernambucano "revela-se o único historiador e sociólogo brasileiro com um pouco mais de envergadura do que simples compilador, ou rato de arquivo".
Gilberto Freyre teve formação religiosa batista. Ainda jovem, em 1918, foi para o Sul dos Estados Unidos, um local conservador e com preconceitos raciais. Dois anos depois, ele seguiu para a Universidade de Columbia, sediada em Manhattan. Lá, onde estava ocorrendo um grande fluxo de imigrantes, Gilberto Freyre começou a direcionar os seus estudos para a Antropologia. Em Nova York, Freyre tomou contato com a obra de Franz Boas, professor alemão radicado nos EUA por questões políticas, que afirmava que, se existe uma desclassificação do negro, não é por uma razão genética, e sim algo que se dá por razões culturais.
O responsável pelo primeiro encontro é professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e pesquisados sênior do IEB. Ele, que começou a lecionar na USP em 1969, comenta bem humorado que sempre teve um “caso” com o Instituto, ainda que fosse titular da FFLCH.
Os eventos do Café Acadêmico continuarão a acontecer durante os meses de maio e junho. De acordo com Magda Chang, chefe de Difusão Acadêmica, professores que desenvolveram pesquisas no acervo do IEB foram convidados para escolher uma obra marcante em seu trabalho e conduzir um Café em que falassem sobre ela.