Como fazer com que o conteúdo da disciplina de Bioética, ministrada no primeiro ano de ingresso do curso de Odontologia, seja estendido e integrado à técnica, que só é ensinada no decorrer da graduação? É a partir dessa pergunta que Nelita Puplaksis desenvolveu, em sua tese de doutorado, uma proposta para a criação de um material didático interativo que pudesse suprir esse espaço criado pela grade curricular.
Nelita explica que seu objetivo foi fazer algo diferente e mais atrativo do que simplesmente um xerox de um livro. Ela se pautou, também, por fundamentos da Educação que acreditam na possibilidade de um ensino não-linear para uma apreensão eficiente do conteúdo, através de links entre os temas. “O material foi projetado para que cada aluno dirigisse seu estudo conforme a sua necessidade e a sua bagagem”, sintetiza.
“Não é bom senso”
A bioética não tem como objetivo dizer o que é certo ou errado. A disciplina, na verdade, procura fornecer ferramentas para que os alunos consigam identificar um problema ético ou bioético e, assim, avaliar as consequências de suas escolhas para si e para os outros. Durante muito tempo essas questões foram consideradas como “bom senso”, pois havia uma prevalência do ensino da técnica sobre outros tipos de conhecimento. Nelita é categórica: “Temos que quebrar essas barreiras, pois é preciso estudar e analisar”.
Além disso, a pesquisadora acredita que o principal problema da bioética, hoje, seja uma divergência entre o que acontece na teoria na prática. Segundo Nelita, “o professor é tido como um modelo a ser seguido, mas se ele não estiver em harmonia nesses dois discursos o aluno copia a prática”. A bioética surge, justamente, como uma ferramenta para que o aluno possa pensar um tema de maneira crítica, refletindo, inclusive, sobre a postura de quem leciona.
Sair do status quo
Neste contexto, o papel do professor fica mais evidente. Sua função não é impor opiniões ou determinar comportamentos. Nelita explica: “Ele deve considerar o que o aluno já tem de conhecimento e de experiência de vida e, a partir disso, suscitar novos significados, sugerindo novas relações entre aquilo que ele já conhece”.
O professor, portanto, precisa conhecer o grupo com o qual trabalha para que o ensino seja mais eficiente. A escolha de giz e lousa ou recursos tecnológicos como recursos educacionais vai depender de cada classe, e isso o professor decide a partir do contato com os alunos. “A relação pessoal é fundamental, seja entre professor e aluno ou dentista e paciente”, destaca.
Interação para continuidade
Nelita ainda explica que o meio digital tem sido uma ferramenta interessante nesse aspecto. Um exemplo disso são os fóruns online, onde há a possibilidade de compartilhamento de material e do desenvolvimento de discussões. Segundo ela, como os assuntos são instigantes, o debate flui.
A doutorandaMonica Pereira da Silva é responsável pela continuidade do projeto de Nelita na FO. Ela defende uma dinamização do acesso a esse material didático e da interação dos alunos nos diversos anos de graduação nesses fóruns. A ideia seria divulgar notícias de bioética que estivessem na mídia. Monica explica: “Incentivaríamos a discussão entre todos os alunos interessados de todos os anos da graduação”.