São Paulo (AUN - USP) - O despejo em rios e reservatórios de esgoto e nutrientes provenientes da fertilização na agricultura causa o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas e, como conseqüência, mau cheiro e gosto desagradável na água de abastecimento. No intuito de detectar com maior precisão esse processo, a eutrofização, Marta Condé Lamparelli, pesquisadora e gerente da Divisão de Análises Hidrobiológicas da Cetesb, revisou o modelo utilizado pela companhia para detectar o estado trófico dos corpos d’água do Estado de São Paulo, criando um índice específico para avaliar os rios. Atualmente, o índice utilizado é o mesmo que o aplicado nos reservatórios.
O lançamento de esgoto sem tratamento nos corpos d’água aumenta as concentrações de fósforo, um dos principais nutrientes de algas e plantas aquáticas, fazendo com que se multipliquem rapidamente e causem inúmeros problemas. O Índice de Estado Trófico (IET) mede a concentração de fósforo e a de clorofila na água. A primeira indica o potencial de crescimento das algas; a segunda, a quantidade efetiva de algas que cresceram num corpo d’água. A Cetesb utiliza o IET de Carlson, criado nos Estados Unidos para medir o grau de trofia dos reservatórios de água e adaptado à realidade brasileira nos anos 80 por Toledo Júnior, pesquisador da própria Cetesb. A pesquisa de Lamparelli, ligada ao Instituto de Biociências (IB-USP) e orientada por Gisela Shimizu, foi feita com base nos dados de monitoramento da qualidade das águas de São Paulo de 1996 a 2001 da Cetesb. A partir dos valores de fósforo e clorofila medidos em 35 rios e 34 reservatórios no período, foi possível fixar um valor específico de IET somente para os rios, além de aprimorar o índice para reservatórios.
Segundo Lamparelli, o IET de Carlson, quando aplicado para valores de fósforo em rios, acusa uma maior eutrofização do que ocorre na realidade. “Isso acontece porque os rios apresentam um maior número de fatores limitantes às concentrações do fósforo, como a velocidade das águas e o material em suspensão, elementos que não foram levados em conta na elaboração do índice para reservatórios”, explica a pesquisadora.
Além do novo índice, a pesquisadora sugere uma nova divisão para as classes tróficas dos corpos d’água. “Quando classificamos um reservatório como eutrófico, por exemplo, fazemos uma abordagem muito ampla que vai dos pequenos problemas até os graves com relação ao abastecimento público e floração de algas”. Para solucionar essa questão, a classe eutrófica ganhou uma divisão, a supereutrófica, que indica uma maior concentração de nutrientes no ambiente aquático e engloba os casos mais graves em relação ao crescimento excessivo de algas.
Aplicações
Os problemas relacionados à qualidade das águas no Estado de São Paulo têm sido recorrentes, com um grande aumento no número de reclamações quanto ao gosto e odor da água que chega às casas dos consumidores. De 1989 a 2001, foram publicados pela imprensa 23 episódios distintos de proliferação descontrolada de algas e plantas aquáticas, segundo levantamento da própria pesquisadora em arquivos da CETESB. Com a revisão do modelo de avaliação dos rios e reservatórios, Lamparelli afirma que ações corretivas contra a floração de algas, como a adequação de Estações de Tratamento para a aplicação de carvão ativado, por exemplo, podem ser feitas com maior antecedência do que acontece atualmente. Desta forma, irão melhorar a qualidade da água captada para o abastecimento da população. Entretanto, a pesquisadora destaca que isso não deve inibir ações preventivas para o controle do lançamento e tratamento do esgoto nos rios e reservatórios, bem como de outras fontes poluidoras. “Este é ainda o maior problema”, afirma a pesquisadora.
Outra vantagem será a maior precisão na medição de outro índice, o IVA (Índice de Proteção da Vida Aquática), utilizado pela Cetesb e que leva em conta, além da avaliação da toxicidade nos corpos d’água, o próprio IET. “A floração de algas não afeta apenas o abastecimento, mas também reflete em toda a comunidade aquática, ocasionando, dentre outras coisas, a falta de oxigênio na água e a mortandade dos peixes”, ressalta Lamparelli. “Sabendo o real grau de eutrofização, será possível detectar, por exemplo, se o problema vem do tratamento inadequado do esgoto ou se existe o despejo de outras sustâncias que prejudicam aquele ambiente”, completa.
Tanto a adequação do modelo de avaliação da qualidade dos corpos de água quanto o novo índice para rios deverão ser aprovados pelas demais áreas da Cetesb responsáveis pela avaliação da qualidade das águas do Estado de São Paulo, antes de serem adotados.