São Paulo (AUN - USP) - Responsável por prejuízos mundiais que alcançam a casa dos dois bilhões de dólares todos os anos, as moscas-das-frutas atacam árvores frutíferas nos cinco continentes. O inseto adulto deposita seus ovos no interior do fruto, que servirá de alimento para as futuras larvas, quando os ovos eclodirem. No Brasil, esse inseto-praga provoca um decréscimo na produção de frutos (mamão, laranja, goiaba) de até 50% em alguns casos, o que provoca a perda de milhões de dólares por ano.
Para conter o avanço dessas moscas e tentar reduzir o prejuízo milionário, a pesquisadora Denise Selivon-Scheepmaker do Laboratório de Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento de Insetos do Instituto de Biociências (IB) da USP vem desenvolvendo uma técnica de controle dessa praga de uma forma que não apresenta efeitos colaterais negativos para o meio-ambiente.
Primeiro, foi descoberto que o principal agressor dos pomares nacionais, a mosca Anastrepha fraterculus, são na verdade três espécies diferentes. Embora muito parecidas em sua aparência externa (morfologicamente), esses insetos possuem diferenças fundamentais entre si, seja nas regiões onde vivem, seja nos frutos que atacam ou mesmo em seus hábitos reprodutivos.
Depois, ao estudar esses diferentes hábitos reprodutivos das espécies novas, foi descoberto que os descendentes de cruzamentos entre espécies diferentes não são viáveis devido à ação de uma bactéria presente dentro das células de alguns insetos, a Wolbachia. Não se sabe ao certo como essa bactéria atua, apenas que a reprodução é inviável se um indivíduo possuir uma linhagem diferente da que seu parceiro possui, ou ainda, se apenas um dos indivíduos apresentar a Wolbachia em suas células.
Por último, é necessária uma detalhada pesquisa das zonas de ação das diferentes espécies das moscas-das-frutas, bem como das linhagens de Wolbachia presente em cada população.
Biofábricas
Com esse conhecimento em mãos, é possível direcionar o controle biológico a determinada espécie que ataca determinada fruta em determinada região. Para isso, cria-se em laboratório milhões de insetos machos estéreis, nas chamadas biofábricas. Estéreis, pois eles possuem um tipo de bactéria diferente daquele que as fêmeas do ambiente-alvo possuem.
Então, esses milhões de machos produzidos são lançados de avião sobre a área afetada. Boa parte deles conseguirá cruzar com uma fêmea fértil, o que resultará numa fecundação sem descendentes, diminuindo assim a população dos insetos em médio prazo.
Chamado de principio do macho estéril, essa tática já vem sendo usada há algum tempo para controle de pragas. Porém, os machos eram esterilizados por radiação, o que ainda causa desconforto para alguns consumidores, notadamente os europeus.
O desenvolvimento dessa nova geração de técnicas de controle biológico, que não intoxicam o meio-ambiente e o próprio alimento, capacitam o Brasil para buscar mercados mais exigentes para o seu agro-negócio, além de colher frutos que não venham carregados de veneno para nossas mesas.