São Paulo (AUN - USP) - A intoxicação cúprica é a segunda maior causadora de mortes em ovinos, ficando atrás somente de verminoses. Trata-se de uma doença provocada pelo acúmulo de cobre no fígado das ovelhas, cujo organismo têm dificuldades para metabolizar a substância. Problema antigo dos ovinocultores de todo o país, os casos de intoxicação cúprica vêm crescendo ano a ano.
No ano passado, cerca de 8% das ovelhas atendidas no Hospital Veterinário (HOVET) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP foram diagnosticadas com excesso de cobre no organismo. Nos anos anteriores, essa porcentagem foi de 4% e 6%. O dado é preocupante, pois a infecção cúprica mata a maioria dos animais que atinge, num curto espaço de tempo, por causas até então não muito bem explicadas.
No entanto, pesquisas coordenadas pelo professor Enrico Lippi Ortolani, do Departamento de Clínica Médica da FMVZ, decifraram qual o caminho específico que o cobre percorre no organismo de ovinos. “Descobrimos que o cobre causa sérios danos aos rins do animal, incapacitando suas funções e provocando sua morte”, diz Ortolani.
A intoxicação cúprica acontece da seguinte forma: como não consegue eliminar a grande quantidade de cobre que ingere junto com a ração, o elemento vai se acumulando no fígado do animal – e lá permanece inerte, armazenado nas células hepáticas. Quando atinge determinada concentração, ele rompe essas células e cai na corrente sanguínea. Ortolani compara esse esquema ao funcionamento de uma represa, “que detém a passagem da água, mas que, quando estoura, libera tudo de uma vez, causando estragos”.
Estrago é uma boa palavra para definir a passagem do cobre pelo sangue: ele destrói as hemácias (o que deixa o animal com anemia), liberando hemoglobina plasmática e radicais livres na corrente. Ao chegarem nos rins – passagem obrigatória do sangue no organismo de qualquer mamífero –, essas substâncias “ajudam” o cobre a lesionar e entupir os túbulos e células renais. Se não for tratado a tempo, o ovino morre por insuficiência renal. “Se receber o medicamento (tetratilmolibidato de amônia, complexo que inutiliza o cobre), o animal sobrevive, mas com os rins prejudicados”.
Detecção e tratamento
Para diagnosticar a intoxicação cúprica com maior agilidade, os estudos desenvolvidos na FMVZ também encontraram uma enzima cujo aumento da concentração está intimamente ligado às grandes quantidades de cobre no sangue. “Agora basta analisarmos a presença dessa enzima para diagnosticarmos a intoxicação cúprica com maior rapidez”, revela Ortolani.
A próxima fase da pesquisa vai investigar duas maneiras de combater a intoxicação cúprica. Uma delas será a adição de um sal ao alimento do animal. Ao reagir com o cobre, o sal inibe sua ação prejudicial no organismo. A outra linha do estudo pretende aliar o tratamento com tetratilmolibidato de amônia a substâncias antioxidantes.