São Paulo (AUN - USP) - Trocas de experiências de vida e de linhas de pesquisa científica. Assim foi o XIII Elea, Encontro Latino Americano de Estudantes de Arquitetura, na cidade de San Miguel de Tucumán, Argentina. A reunião, que contou com centenas de estudantes de todo cone sul, aconteceu entre os dias 09 e 16 de outubro e serviu para a divulgação de estudos diversos e para discussão da arquitetura daquela cidade.
Uma das pesquisas apresentadas foi a da adequação de sistemas construtivos à realidade sócio-econômica dos países de 3º mundo. Segundo a estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), Clarissa Mendes, “projetamos-nos em sistemas de construção do 1º mundo, ao passo que nossa necessidade e nossos materiais são de acordo com nossa região”. A proposta de materiais de construção mais leves, menores e com uma maior facilidade de manuseio veio da necessidade de técnicas mais simples, para os moradores de regiões pobres construírem sozinhos suas casas.
Os estudantes aprenderam a técnica e a aplicaram na comunidade. Um exemplo foi a construção de uma laje, com o reforço de garrafas PET na parte interna. Para Clarissa, “esse projeto serve para reforçar nossa identidade latino-americana, já que nossas necessidades são parecidas e as soluções também”. Vale ressaltar que o objetivo não foi somente a aplicação, mas a transferência de tecnologia e conhecimento à população.
Uma tendência nos encontros é a analise dos principais problemas relacionados à arquitetura da cidade-sede e, se possível, a proposta de soluções a eles. Assim iniciou-se a análise da questão do tombamento do patrimônio histórico. Como a Argentina não possui um órgão responsável por isso, como o Condephaat brasileiro, várias propriedades de valor arquitetônico estão sendo demolidas para feitura de outras construções mais modernas. O grupo responsável pela discussão do assunto, como conclusão do aprofundamento, resolveu fazer uma manifestação - cobrir alguns prédios de preto - para assim despertar a atenção da sociedade de Tucumán ao problema.
Uma rua de extrema pobreza, que atravessa um bairro muito rico, também foi motivo de análise de um dos grupos de estudantes. “A rua, que era uma linha de trem, não tem nem as condições sanitárias básicas, mas os moradores de lá convivem com os ricos vizinhos; estudam até na mesma escola” afirma Gabriel, estudante do 2º ano da FAU-USP. O proposto foi uma intervenção em uma praça que os moradores mais pobres freqüentam. “Adaptamos brinquedos e organizamos uma mini-exposição com desenhos das crianças. Essa foi uma maneira de sugerirmos um caráter simbólico de apropriação do espaço público e acenarmos com uma mudança social, através da reutilização do ambiente”, completa Clarissa Mendes.
O próximo encontro, que é anual, será na cidade de São Luís, no Maranhão. Por enquanto, não há nenhuma linha de pesquisa definida. “O possível alto custo e a enorme distância dos outros países pode ser um empecilho”, segundo a estudante Juliana Silva, “mas em Tucumán o pessoal estava bem animado a ir”.