Em determinado período do dia, um número maior ou menor de abelhas podem ser atraídas para um doce. Surgiu a ideia, então, no início do século 20, que as abelhas possuíam certo marcador de tempo para procurar alimentos. A proposta causadora de rebuliços na época foi a origem do que hoje é conhecido como Cronobiologia, que são os ritmos e fenômenos físicos e bioquímicos que ocorrem nos seres em função do tempo. Afinal, o estado do nosso organismo oscila em diferentes horários do dia.
O professor Luiz Menna Barreto, responsável pela iniciativa e participante do grupo pioneiro de pesquisa em Cronobiologia no Brasil, define como objeto de estudo dessa área do conhecimento “as oscilações do comportamento e funcionamento do organismo”. A Cronobiologia propõe uma leitura da organização dos seres vivos sob dimensão temporal, hoje bastante difundida, que tem como um dos principais fenômenos os ritmos biológicos.
“Ritmos biológicos resultam da atuação de mecanismos do próprio organismo em interação com os ciclos ambientais”, de acordo com a apostila das oficinas preparatórias para feira de ciências “Tempo na Vida” que tratou, no mês de abril desse ano, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), de experiências e discussão de projetos de pesquisa referentes à Cronobiologia.
Os ritmos biológicos são controlados pela atuação conjunta de diversas áreas do organismo, de acordo com o ambiente que está imerso. O professor alerta ainda que “os ritmos mudam conforme a idade e conforme os indivíduos”. A freqüência cardíaca, a temperatura corporal, o funcionamento do cérebro e a produção de hormônios são algumas das características que evidenciam essas diferenças. Um exemplo disso são as diferenças entre pessoas consideradas matutinas, vespertinas e intermediárias.
Segundo o “Questionário de Cronotipo” feito por Leandro Duarte, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo, os indivíduos matutinos apresentam “preferência por acordar nas primeiras horas da manhã e encontram dificuldades em manterem-se acordados além do seu horário habitual de dormir”. Os vespertinos preferem dormir tarde e ter menor tempo de sono durante a semana, e compensar isso nos sábados e domingos. Isso faz com que os vespertinos acabem cochilando durante o dia, “e apresentem maiores problemas com a atenção, maiores indisposições emocionais e maior consumo de cafeína do que os matutinos”, segundo o pesquisador.
Feira de Ciências
Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a feira “Tempo na Vida” proporcionou a alunos e professores do Brasil a troca de conhecimentos referentes ao estudo da Cronobiologia. Para o professor Luiz Menna-Barreto, responsável pela iniciativa, a experiência foi de “ousadia e de diálogo, com a finalidade de se deixar uma marca”.
Os projetos de pesquisas foram discutidos, um a um, pelo grupo inteiro de pesquisadores e professores. (Foto de Jeanine Carpani)
Cada aluno, seja do ensino infantil, fundamental ou médio, transferiu experiências próprias ou curiosidades para seus projetos. É o exemplo de Alan Teixeira, 15 anos, que veio de Natal para apresentar seu projeto que trata da comparação entre jovens que estudam pela manhã e jovens que estudam pela manhã e trabalham a tarde. O nível de sonolência de cada um e o tempo de sono serão alguns dos pontos estudados por Alan, que, assim como os outros pesquisadores, está disputando uma das 80 bolsas de Iniciação Científica Jr, do CNPq.
Todo esse estudo considerado recente no mundo científico é negligenciado no ensino de ciências e biologia nas escolas. O objetivo da feira foi, então, propiciar às escolas a vivência dos ritmos biológicos e convidar alunos e professores ao aprendizado da dimensão temporal da vida. O que de certa forma, teve êxito. Alan, por exemplo, disse que nunca tinha tido contato com Cronobiologia antes de a professora propor o projeto.
“O nome 'Família Dias' foi escolhido para enfatizar o aspecto da passagem do tempo ao longo das 24 horas de um dia”, segundo o material da Feira. (Fonte: temponavida.com)
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