Conseguir ativar a produção viral nas células com o vírus latente para que possam ser detectadas pelas drogas já existentes; reduzir a propagação evitando a primeira infecção, consequentemente, dando maior resistência para grupos de risco; e apontar certas características definidas pelos genes (genotípicas) que resultam em indivíduos resistentes ao tratamento; foram as três linhas de pesquisa apresentadas por Renato S. Aguiar em palestra na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Ingenol
Renato, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que a maior dificuldade para encontrar uma cura para infecção do HIV (e, consequentemente, para AIDS) é a latência do vírus nas células dos tecidos humanos. Essas células de memória acabam mantendo os genes virais na iminência de ativação e não podem ser reconhecidas pelas drogas do tratamento antiretroviral (HAART), eventualmente, a produção do vírus recomeça. Esse fato somado às altas taxas mutagênicas do vírus tornam o desenvolvimento da AIDS quase que inevitável, mesmo podendo ser adiado por diversos anos.
No caso, essa pesquisa, assim como muitas outras já feitas, busca forçar a ativação desses vírus latentes para que essas células sejam reconhecidas pelas drogas do tratamento já vigente, uma combinação de ativação e ataque intensivo. Muitos compostos com essa qualidade de ativar o HIV já foram descobertos, porém todos eram de difícil síntese laboratorial e principalmente eram nocivos às outras células saudáveis.
A equipe de Renato, no entando, vem trabalhando com o Ingenol (KYOIIB), composto extraído da planta africana Euphorbia tirucalli L de fácil síntese, que não é tóxico para as células (citotóxico) em quantidades controladas, tem uma alta taxa de ativação da transcrição do RNA viral e, incrivelmente, foi mostrado que ele dificulta a infecção de novas células expondo por períodos maiores.
O projeto, porém só foi testado em vitro com células propositalmente infectadas e postas em latência por isso não se pode colocar todas as esperanças, apesar da baixa citotoxidade não se sabe sobre possíveis efeitos colaterais, ou se a substância é possa ser cancerígena. Existem muitas etapas testes até o tratamento de voluntários.
Pinhão-manso
A segunda pesquisa mostrada se trata de uma droga presente no extrato do pinhão-manso, Jatropha curcas, que inibe a replicação do vírus em certas concentrações e sem nenhum efeito citotóxico.
Além de possibilitar um maior controle da infecção já vigente, essa droga tornou células pré-tratadas resistentes à infecção inicial. Ainda é uma classe nova de drogas a ser desenvolvida, mas ela representa uma boa esperança na tentativa de reduzir a transmissão, tratando os grupos de risco previamente.
Polimorfismos Humanos
Certas pessoas apresentam variações genéticas no seu meio celular que as tornam resistentes ao tratamento intensivo antiretroviral (HAART). Existem muito poucas pesquisas voltadas para os fatores do hospedeiro.
Genes SLC22A1, SLC22A2 e SLC22A3 são os responsáveis pela síntese de proteínas que facilitam a entrada de substâncias nas células. Enquanto o gene ABCB1 é o responsável pela síntese de uma proteína importante para extrusão de drogas, é um gene de toxicidade. Mutações em ambos os casos impedem a entrada ou expulsam as drogas do meio intracelular.
Essa pesquisa é importante para o desenvolvimento de novas drogas que transpassem essas características de genes mutantes, e evitar o número de falhas terapêuticas. Mesmo assim, como todas as anteriores, essa pesquisa também está em andamento e não se sabe ao certo as especificidades e efeitos de cada mutação. O espaço para análise é bem restrito.