Lançado em abril de 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tem como objetivo reduzir a ocorrência de eventos adversos no serviço de saúde, seja público ou privado. Com isso, o tema abordado por Liéte Marques em sua dissertação de mestrado fica ainda mais em evidência. A pesquisa Uso de medicamentos e a segurança do paciente na interface entre hospital, atenção básica e domicílio trata da questão do atendimento ao paciente, especialmente no período após a alta.
Apesar do foco no uso de medicamentos, Liéte observou as estratégias adotadas pela instituição para a segurança do paciente, através de entrevistas com médicos, enfermeiros, farmacêuticos e assistentes sociais no Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP). A partir disso, a pesquisadora pontuou os principais métodos utilizados, além de analisar as questões que interferem na continuidade do atendimento ao paciente quanto ao uso de medicamentos.
Segundo Liéte, a principal estratégia realizada pelos profissionais do Hospital Universitário visando a instrução sobre o uso de fármacos após o período de internação é a orientação de alta ao paciente ou cuidador. Porém, tal medida é mais especializada com pacientes pediátricos. “Com os pacientes adultos é necessário haver uma priorização de casos específicos, mas a tendência é que isso se expanda para os demais pacientes”, explica. Além dessa, outra estratégia é a reconciliação medicamentosa, que, através de uma análise comparativa e adequação do tratamento a que o paciente será submetido, tem como objetivo evitar erros em relação ao medicamento durante a transição da admissão até a alta, e estava sendo implantada no HU durante a realização da pesquisa. “Foi uma surpresa bastante grata, pois, apesar de ser uma estratégia utilizada há anos em outros países, são pouquíssimos hospitais brasileiros que a realizam”, pontua Liéte.
Há também a visita domiciliar, que, no caso do Hospital Universitário, ocorre para pacientes críticos, com problemas de locomoção e dificuldades de retornar ao Hospital, que recebem a visita domiciliar de uma equipe multidisciplinar, com médicos, enfermeiros e nutricionistas, mas que não contam com a presença de um farmacêutico. Segundo a pesquisadora, esse fato dificulta o processo, já que a literatura confirma a constante dúvida em relação à administração de medicamentos, e a visita do profissional especializado cooperaria para que essa fosse sanada com mais clareza.
Com isso, Liéte aponta as principais dificuldades para que o acompanhamento após à alta seja feito de forma extensiva e completa a todos os pacientes, sendo a falta de profissionais e de tecnologias de informação as principais causas. “Não existe a articulação necessária entre o Hospital e a rede básica, falta a troca de informações sobre o paciente. Há a necessidade de vencer as barreiras da insuficiência de recursos humanos e da falta de tecnologias, como o prontuário eletrônico, que facilitaria o compartilhamento do histórico clínico do paciente”.
A falta de planejamento da alta também impede melhorias a esse acompanhamento. Apesar de ser mais estruturado na clínica pediátrica, o processo normalmente não conta com a presença de enfermeiros e farmacêuticos, o que implica em uma deficiência na questão da assistência medicamentosa. No entanto, o Hospital Universitário da USP ainda está mais avançado que outros hospitais brasileiros nesse ponto. “No geral, o que nós observamos é que são desenvolvidas atividades voltadas para a segurança do paciente no processo do uso de medicamentos após a alta hospitalar no HU que, mesmo com limitações, não são desenvolvidas por outros hospitais do país”, afirma Liéte.