ISSN 2359-5191

03/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 28 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Documentos atestam a qualidade de Guimarães Rosa como observador
Uma caderneta e duas pastas trazem observações que o romancista fez ao acompanhar boiada pelo sertão mineiro

No terceiro encontro do Café Acadêmico Um Autor, Uma Obra, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), o mineiro Guimarães Rosa foi o assunto. A professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), Sandra Vasconcelos, trouxe para o público três documentos que pertenceram ao autor presentes no acervo Guimarães Rosa, do IEB: uma caderneta e duas pastas com páginas datilografas. Nesses registros, há impressões do romancista dos dias de 1952 em que ele acompanhou uma boiada pelo sertão de Minas Gerais, tendo acabado de voltar do exterior.

O primeiro documento analisado pela professora foi a caderneta. Nela, observações de Graciliano escritas diretamente de “cima do lombo do cavalo”. A professora acredita que existam outras cadernetas, mas elas não se encontram presentes no IEB. O documento, que tem o primeiro registro escrito após o dia 27 de maio de 1952, tem apenas 30 páginas. Já as duas pastas trazem “um outro tipo de registro, muito mais completo”, de acordo com Sandra. Nomeadas pelo próprio Guimarães de Boiada 1 e Boiada 2, as pastas contêm 80 e 77 páginas datilografadas, respectivamente.

“Chamar essas anotações de registros não dão conta da imensidão do que elas trazem”, comenta Sandra Vasconcelos. Principalmente nas páginas que foram encontradas dentro das pastas Boaida, já se vê um trabalho de poeta que o romancista fazia com o que anotava. Há um amplo registro da tradição oral sertaneja, condizente até mesmo com o trabalho feito por folcloristas. Nas anotações de Guimarães Rosa, vê-se um linguajar do sertão e dos sertanejos, que fizeram parte da comitiva acompanhada pelo mineiro e foram inspiração para as suas histórias.

As observações de Guimarães Rosa feitas nessa viagem serviram, principalmente, de referência para a composição das novelas presentes no livro Corpo de Baile, primeiramente lançado em 1956, quatro anos após as aventuras do romancista sertão adentro. Diálogos inteiros presentes nas páginas datilografadas foram transcritas para as histórias.

A professora se deteu, então, em uma análise sobre a novela Uma estória de amor. O seu enredo é completamente baseado em fatos reais, vivenciados por Guimarães Rosa, e a personagem principal da história, Manuelzão, é Manuel Narde: capataz da fazenda de seu primo e líder da comitiva que Rosa acompanhou.

Trechos presentes nas páginas datilografadas se destacam, também, diante dos olhos dos conhecedores da obra Grande Sertão: Veredas. “O São Francisco - barrento - recebe o Rio de Janeiro - de água verde”: essa descrição é reconhecida por ser o local onde Riobaldo e Diadorim, ainda meninos, se encontraram pela primeira vez. A fazenda Santa Catarina, que “fica perto (junto do) céu - um céu de azul pintural - de Pisa ou Siena - com nuvens que não se removem”, fez parte do itinerário de Guimarães Rosa. E era onde Otacília, uma das mulheres amadas por Riobaldo, morava.

A professora Sandra Vasconcelos começou a trabalhar no Fundo Guimarães Rosa do IEB em 1979, quando era aluna de mestrado e os documentos lá presentes eram, ainda, inexplorados. No fundo, ela encontrou tanto material que acabou fazendo seu mestrado e doutorado com foco em Guimarães Rosa. Ela conta que tentou abandonar o escritor ao direcionar seus estudos para  a literatura inglesa. Contudo, ela acabou voltando ao seu ponto de partida quando, em 2006, foi convidada a voltar ao IEB para ser curadora do Fundo Guimarães Rosa, onde iniciou suas pesquisas.

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