A educação inclusiva foi o tema de uma das palestras da Semana de Psicologia e Educação, organizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP. Rinaldo Voltolini, psicanalista e professor da Faculdade de Educação da USP (FEUSP) foi o convidado para discutir esse tema. Ele afirmou que gostou do nome dado para a palestra dele, Encontros da Psicanálise e da Educação: Pensando a Educação Inclusiva, pois seria uma forma de abordar um vício existente nesse tipo de discussão: o reducionismo.
Voltolini esclareceu que não é a mesma coisa falar de surdos, de cegos, ou de autistas, por exemplo. Esses são tipos diferentes de exclusão. No caso dos surdos, por exemplo, muitos dizem que a inclusão é a exclusão, pois eles têm uma língua própria, o que faz com que a questão da surdez se relacione mais com a ordem do estrangeiro do que com a ordem do deficiente.
Já quando se falam dos autistas, uma argumento que é amplamente usado é o de que eles dificilmente conseguirão se organizar, portanto, precisam de um grupo de pessoas que tome as decisões por eles. Entretanto, o psicanalista afirmou que há um grupo na Europa que reivindica que os grupos de discussão não incluam apenas a família os médicos, mas também o próprio autista, pois muitas vezes acaba acontecendo um conflito de interesses entre pais e filhos.
Segundo Voltolini, que afirmou já estar incluído na experiência antissegregativa na área da desrrazão antes mesmo da educação inclusiva ter virado lei, o portador de deficiência fala que o que mais incomoda não é a exclusão e as maneiras com que tentam a inclusão, nem o fato dele precisar das pessoas, mas sim, o fato de que as pessoas não precisam dele, que ele não faz a diferença na vida delas.
De acordo com o professor e psicanalista, antes de se pensar em educação inclusiva, as formas de tratamento segregativas traziam modelos de tratamento com excessiva objetivação, o que fazia com que as crianças perdessem a sua história, ao serem transaformadas em meros pacientes uniformes, a sua dimensão de verdade – pois a credibilidade delas era totalmente perdida, o que fazia com que nem elas próprias acreditassem em si mesmas – e tivessem pouco contato com a oferta cultural espontânea – ou seja, elas só entravam em contato com o que os especialistas impunham.
Como uma espécie de marco da educação inclusiva, Voltolini cita a Escola Experimental de Bonneuil, fundada por Moud Mannoni, que acabava com os termos técnicos, aceitando "quem tivesse sido rejeitado pelo sistema convencional de ensino." Lá, a primeira coisa a ser feita foi acabar com os banhos de tratamento e promover a circulação social. Ele disse que a escola fazia uma aposta em algo que vem de uma construção teórica e que a construção do homem não é higiênica ou seja, "que os pais sujam os seus filhos" com suas características e suas atitudes. Eles apostavam no fator subjetivante da educação para o tratamento, e não no objetivante e uniformizante trazido pela ciência.
O nome experimental existe porque Manonni não queria que o seu método virasse política pública, porque ela acreditava que o fato de ter dado certo em um certo lugar não significava que iria dar certo em todos os outros em que aquele método fosse aplicado. Para ela, a psicanálise (método que ela utilizava) ia de encontro com a política pública, uma vez que enquanto o primeiro se calcava na individualização, o segundo se baseava na universalização do caráter.
Voltolini, por fim, levanta a questão da diferença entre fazer parte e participar. Para ele, fazer parte é um fenômeno social e passivo. É no âmbito do fazer parte que se centram a maioria dos processos da educação inclusiva de hoje em dia, onde as pessoas decidem pelos pacientes. Já o participar é um fenômeno político e ativo, é onde os próprios pacientes fazem parte das discussões.