São Paulo (AUN - USP) - Em oposição à produção controlada por poucos, vigente no século XX, surge um novo modelo descentralizado. Essa é a análise de Yochai Benkler, professor de direito da Universidade de Yale, Connecticut, EUA. Benkler atua na área de regulação da informação. Durante os dias 4 e 9 de novembro esteve no Brasil participando de workshops e conferências. Sua última participação foi na conferência “Liberdade e Justiça nos Commons: Uma Economia Política da Informação”, ministrada no Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).
Esse sistema, chamado de produção peer (algo como produção entre pares, em uma tradução livre da expressão em inglês), é a colaboração entre indivíduos que não se guiam pelo sistema de preços ou pela hierarquia. O novo modelo é mais eficiente que outros porque seus membros são colaboradores e não empregados contratados. Dessa forma, podem determinar qual função exercerão, de acordo com interesses pessoais. E porque a relação entre eles é horizontal, não-hierarquizada, todos têm o direito de sugerir alterações no produto. De acordo com Benkler, essas comunidades se baseiam em três conceitos do liberalismo político: democracia, autonomia e justiça social.
Nelas, a distância entre consumidor e produtor é enfraquecida. Com o capital humano no centro da produção, o cliente também passa a ser parte da atividade produtiva, apontando o que deseja. Nas comunidades que seguem a lógica de produção peer, a colaboração é incentivada. Como exemplo temos o sítio Wikipedia e os projetos de software livre ou código aberto.
Essas redes de produção não são novidade e nem fenômeno exclusivo da Internet. Como exemplo, o jurista menciona as pesquisas científicas. Na academia, cada cientista segue uma linha que mais lhe agrade e se relaciona com pesquisadores da mesma área para aperfeiçoamento do conhecimento gerado. Benkler afirma que uma vez que as tecnologias de informação se tornaram mais acessíveis, “o fenômeno se tornou comportamento normal”.
Berlusconi e Baywatch
Benkler vê dois problemas na circulação de informações. Ele os nomeou efeito Berlusconi (primeiro-ministro italiano e dono de empresas de comunicação) e efeito Baywatch (seriado de TV criado nos EUA). O primeiro é caracterizado pela alta concentração dos meios de comunicação de massa e o uso desses meios para exercer controle político sobre a sociedade. O segundo efeito seria a despolitização dos indivíduos, ocasionada pela manipulação e padronização da informação. A produção fora do mercado e sem um dono específico seria necessária para manter a produção eficiente de informação.
Falar em produção alternativa não é sinônimo de guerra contra o capitalismo. As comunidades de colaboradores se relacionam com empresas de diversas formas. E as beneficiam. A IBM, empresa que comercializa hardware, programas e serviços da área de informática, ganha, segundo Benkler, US$ 2 bilhões por ano com negócios relacionados ao Linux. A Nasa possui uma relação sem fins lucrativos com os colaboradores do projeto SETI@home, que processam informações captadas por radiotelescópio.
Mais informações:
http://wikipedia.org
http://www.benkler.org
http://www.ime.usp.br/~is/Benkler/