ISSN 2359-5191

10/11/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 18 - Educação - Escola de Educação Física e Esporte
Estudo expõe papel das crenças religiosas de atletas
Autor de dissertação resgata a ligação entre esporte e religião na mitologia grega e analisa modos de tomar decisão na prática esportiva.

São Paulo (AUN - USP) - Esporte e religião estão tão ligados que é comum notar atletas se benzendo ou orando antes de iniciar uma competição. Atento a estes comportamentos, Paulo Marcelino Conceição resolveu estudar as crenças religiosas de atletas. Além disso, debruçou-se sobre os diferentes tipos de referências que eles utilizam para tomar decisões. Esta maneira de dar suporte a decisões é chamado de “lócus de controle”.

Mas o trabalho não parou por aí. Conceição, que é psicólogo esportivo e amante da mitologia, reuniu todas as conexões de seu estudo sob o símbolo de Perséfone, a deusa grega da atividade agrária e esposa de Hades, o deus do inferno. “Os gregos disputavam competições esportivas como forma de culto a Perséfone, o que caracteriza, desde então, a ligação entre religião e esporte”, explica Conceição.

A dissertação de mestrado será defendida no próximo dia 26, na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, intitulada “Perfil Perséfone: um estudo sobre crenças religiosas e lócus de controle de atletas de handebol”.

Para sistematizar modalidades de crenças, Conceição baseou-se no psicólogo J. B. Pratt. De acordo com o modelo, pode-se aferir quatro tipos: crença primitiva, crença intelectual, crença emocional e crença ético-moral - esta última, nomeada pelo próprio Conceição a partir de inferências sobre o trabalho de Pratt.

A primitiva é a que o sujeito tem em sua base estrutural, e vem herdada. Esta tem características semelhantes em todas as culturas. O questionamento da crença primitiva e a busca de comprovação científica para a religiosidade caracterizam a crença intelectual. A crença dos místicos, ou seja, aquela que é vivenciada pela própria percepção da vida, sentindo Deus na natureza, é a crença emocional.

E por último, a crença ético-moral é a que busca padrões e normas de conduta que orientem para a vida e ajudem a se posicionar diante dos problemas. “É interessante notar que, mesmo em pessoas que se consideram ateus, esta crença pode ser observada, já que costumam apresentar convicções em relação a como devem se dirigir no sentido ético-moral”, observa o estudioso.

Estas modalidades de crenças, que podem ser predominantes em cada indivíduo, mas não são necessariamente excludentes, foram pesquisadas especialmente nos atletas da amostra. “É difícil encontrar ateus no esporte”, diz Conceição.

Já o lócus de controle, que são as referências através das quais os atletas balizam suas decisões, pode ser externo ou interno. O lócus de controle interno acontece quando o indivíduo utiliza a si mesmo como referência predominante de determinada decisão. O externo pode ser dividido em lócus de controle de pessoas poderosas e de sorte-azar.

Ao basear-se na autoridade de treinadores, dirigentes e preparadores para tomar decisões nos esportes, os atletas estão utilizando o lócus de pessoas poderosas. Porém, quando acreditam que tudo o que acontece não depende de suas atitudes, utiliza o lócus de controle externo sorte-azar.

Conceição, que preferiu esperar a defesa da dissertação para divulgar alguns resultados, verificou qual o lócus de controle predominante. Mesmo sem revelar qual é, ele afirmou que o lócus de controle interno, desde que não extremamente elevado, é muito bom para os atletas. Ao contrário do lócus de sorte-azar, que é prejudicial, pois os esportistas com esta predominância não se mobilizam devidamente às suas atividades.

E, para quem ficou curioso para saber sobre a eficácia dos treinadores como referência para as decisões dos atletas deve esperar um pouco mais. Isto porque ainda não há estudos mais profundos sobre este referencial específico.

Conceição faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicossociologia do Esporte (GEPPSE) na EEFE. O grupo tem feito um trabalho de assessoria psicológica esportiva para o Paulista de Jundiaí, clube de futebol que atualmente disputa a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

O GEPPSE é coordenado pelo professor Antonio Carlos Simões.

Mais Informações: (11) 3091-2138

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