ISSN 2359-5191

10/11/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 18 - Sociedade - Faculdade de Direito
Política já determinou morte oficial de Arafat
Líder palestino, internado na França desde o último dia 29, é mantido vivo por razões estratégicas, diz professor da FDUSP.

São Paulo (AUN - USP) - Yasser Arafat está morto clinicamente. Sua morte ainda não foi oficializada, pois está sendo administrada politicamente, até que se definam os rumos da política palestina pós-Arafat. Esta é a opinião de Luiz Sergio Modesto, professor-colaborador da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP). Para ele, “a morte clínica não é a morte política, é a importância do político que determina a morte clínica”. Este seria um aspecto pouco discutido na História.

 Segundo Modesto, a irreversibilidade do estado de saúde do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) é uma questão estritamente médica. São os profissionais da área que estão autorizados a falar oficialmente a respeito da saúde de Arafat. Entretanto, o professor opina que, provavelmente, o líder palestino está sendo preservado com vida apenas para que outras lideranças cheguem a um acordo sobre a divisão de poderes na ANP. “A morte política é uma coisa, a morte física é outra”.

Desde o último dia 29, Arafat foi levado para Paris, onde está internado em um hospital militar. A saúde de Arafat se deteriorou e o presidente palestino respira com ajuda de aparelhos. Em coma profundo e com a falência de órgãos vitais, a sua morte é uma questão de tempo. O líder da ANP recebeu, na última terça-feira, a visita de políticos palestinos como o premiê Ahmed Korei. Ontem mesmo o governo palestino decidiu que Yasser Arafat será enterrado em seu quartel-general, em Ramallah, na Cisjordânia.

Arafat estaria sendo mantido vivo até que se concretizem acordos políticos entre outras lideranças palestinas, para que a região não viva uma disputa pelo poder e que isso não leve a uma escalada de violência entre os próprios palestinos após a sua morte oficial. “É essencial para a unidade da coletividade palestina, pois este será um elemento de coesão para que se continue a luta por seu Estado nacional”.  

Dirigentes palestinos tentam administrar a questão pelo aspecto simbólico. “A política prolonga a vida de Arafat”. Para Modesto, uma das funções de se preservar um político vivo, mesmo que não haja mais esperança que este sobreviva, é a de mitificá-lo. “A morte de Arafat terá uma força simbólica, mítica”, pois a causa palestina conta com a simpatia dos mais variados agrupamentos no mundo, que apoiariam a autodeterminação de um território para este povo. “É uma força moral, independente de espaço ou tempo”, completa. Ela não é imediata, mas de médio e longo prazo, um elemento “que integrará o arcabouço persuasório de conquista do Estado palestino”.

O professor cita o exemplo de ex-presidentes brasileiros para ilustrar sua idéia. Segundo ele, Tancredo Neves foi mantido vivo, em 1985, pois havia temor de que os militares não entregassem o poder. “Não havia uma fronteira clara entre o que ficava (Regime Militar) e o que viria depois”. A carta de Getúlio Vargas também é um elo que deu, a este ex-presidente, sobrevida.

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