Apresentado em palestra por Jacques Lépine, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), o LLAMA (Long Latin American Millimeter Array) está prestes a sair do papel. O projeto consiste na construção de uma antena de radiotelescópio de 12 metros de diâmetro nos Andes, a 4.800 metros de altitude, por duas instituições em parceria, uma nacional (Fapesp) e outra argentina (MinCYT).
Há dois anos, o projeto LLAMA já estava sendo discutido, mas foi com a recente inauguração do Alma (Atacama Large Millimeter Array) – um mega radiotelescópio composto por 66 antenas no Atacama chileno, o maior projeto de observação astronômica do mundo – que a compra de uma antena tornou-se viável, pois a produção em série barateou o preço e isso apressou o andamento do projeto. Com todos os cálculos de custo prontos e burocracias ultrapassadas, as assinaturas para dar início à construção são iminentes, segundo Lépine.
O projeto possui alta demanda na comunidade científica e pretende trazer diversos resultados positivos em várias áreas da astronomia. Sua localização é propícia para a geração de dados mais precisos, aglomerando informações de outros radiotelescópios por meio de interferometria – em radioastronomia consiste na observação simultânea de um objeto por vários telescópios combinados, simulando um único radiotelescópio do tamanho da distância máxima de separação entre eles – para obtenção de imagens com maiores resoluções.
O LLAMA está a cerca de 150-200 quilômetros dos radiotelescópios do Alma e do Apex (Atacama Pathfinder Experiment), e cerca de 2 mil quilômetros do Rádio Observatório de Itapetinga (localizado em Atibaia, SP), o que garante uma boa margem para o uso da interferometria. Haverá um incremento da resolução angular com leituras em lugares distantes e todos os radiotelescópios se complementarão.
Mais de 15 linhas de pesquisa serão beneficiadas ou se tornarão possíveis com a construção do LLAMA, das quais Lépine destacou três: pesquisa de buracos negros supermassivos (imagens melhores dos horizontes desses buracos negros pelo uso de interferometria), evolução molecular em nuvens interestelares (benefícios no campo da astrobiologia, pesquisas sobre a origem da vida por compostos orgânicos complexos formados no espaço) e ainda melhores entendimentos em física solar.
Ficou decidido que a instituição argentina se encarregaria de instalação da infraestrutura (estradas, energia, internet, conexão com o centro de pesquisas e leitura de dados na cidade mais próxima, telecomunicações, entre outros) e que a instituição nacional se encarregaria da compra do equipamento (uma antena igual às recentemente instaladas no Alma que custa em torno de €$ 6,7 milhões). Como um projeto binacional cada país terá direito à metade do tempo de observação do telescópio.
A parte brasileira do grupo responsável pelo projeto é formada por quatro integrantes astrofísicos oficiais e um engenheiro agregado. Dos cinco, quatro são pesquisadores do IAG-USP.