Marcos Acayaba foi à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAUUSP) junto com Marina Grinover, da Base 3 arquitetos, para apresentar o projeto que mandaram para o concurso público Estação Antártica Comandante Ferraz, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e pela Marinha do Brasil.
Esse concurso tem o propósito de escolher um projeto para a reconstrução da base do Brasil na Antárica, após pegar fogo no início de 2012. Ela se encontra na península de Keller, no paralelo 62° (limite da Antártica), e segundo Acayaba, esse foi o projeto mais difícil que ele elaborou.
Com um edifício principal e uma série de edifícios menores, o projeto precisava se preocupar também com a preservação dos microorganismos que existem na área, que são de extrema importância e portanto, intocáveis. Ele também tinha que resistir às baixas temperaturas (que variavam entre 16° e -28°, não sendo tão extremas assim), mas principalmente, aos ventos, que tinham velocidade de cerca de 200 quilômetros por hora.
Devido a essas dificuldades, afirma Acayaba, o edifício foi projetado sem arestas, para suportar os ventos, solto do chão, para evitar que as pessoas ficassem presas dentro dele devido à neve e todo em madeira laminada, porque além de amenizar o clima seco da Antártica, ela é um bom isolante térmico.
Em relação à infraestrutura, Marina afirma que ele não podem deixar nada do que usam no local, e que tudo o que for coletado, deve ser devolvido em seu estado natural para a natureza. Por esse motivo, todos os sistemas do projeto, como o tratamento de lixo, água, climatização, entre outros, buscam ser híbridos e multifuncionais.
O sistema de aquecimento, que não precisa ser tão potente quanto o de outras bases, devido ao fato da base brasileira se encontrar na zona temperada da Antártica, ocorreria de duas formas, segundo a arquiteta, passivamente ou ativamente. A forma passiva funcionaria através de calores que são produzidos não-intencionalmente, mas que são aproveitados por eles, como o calor solar, o calor dos corpos e o das máquinas em funcionamento, por exemplo. Já a forma ativa de aquecimento, quando o coletor solar aquece a água para o reservatório ou com o sistema de calefação.
Já o sistema de energia elétrica, que é um dos maiores sistemas de consumo, faz uso, principalmente da energia solar e da energia eólica – como forma de aproveitar a intensidade dos ventos da região. Apesar disso, o projeto possuí também dois geradores de energia para garantir caso algo errado aconteça com alguma das outras matrizes.
Para o abastecimento de água, o projeto elaborou três sistemas: o dos reservatórios naturais de água doce, como os lagos que derretem no verão, o de tratamento de água bruta, com um abrandador que reduz os sais dissolvidos e a dureza da água e um complemento que dessaliniza por osmose e a água de gelo, que funciona com as calhas absorvendo a neve que nelas caem e derretem, fazendo, assim, com que a água vá parar num reservatório que abastece o interior.
Já o sistema de resíduos funcionaria de duas formas distintas para os sólidos e os líquidos (esgoto). Para os resíduos sólidos existe no projeto um sistema térmico e de secagem, com um incinerador e um secador, sendo que outras coisas, como os tijolos, seriam trazidas de volta para o Brasil. Já o sistema de esgoto funcionaria através de uma tecnologia de membranas de ultrafiltração.