ISSN 2359-5191

07/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 32 - Educação - Instituto de Psicologia
Seminário discute processos educacionais alternativos

Entre os dias 20 a 24 de maio, o Instituto de Psicologia da USP sediou a Semana de Psicologia e Educação, em parceria com a Faculdade de Educação. Nela, temas como a construção psicológica na infância e a necessidade de uma educação livre foram debatidos. José Pacheco, idealizador e coordenador da Escola Básica da Ponte, em Portugal, foi um dos palestrantes, e falou sobre modelos alternativos de ambiente escolar e processos inclusivos de autonomia estudantil.

A Escola da Ponte foi um projeto de escola livre criado em Portugal, na década de 70. Entre suas diretrizes, está o fato de não haver a divisão dos alunos por séries ou por classes, sendo que eles montam os seu cronograma de estudos do dia, e têm aula com todos os professores que escolherem. Com base em seu primeiro modelo, José Pacheco veio para o Brasil com o intuito de implantar um modelo educacional parecido com esse, e que funcionasse em condições brasileiras.

A crítica do educador é feita, exatamente, no que diz respeito ao modelo atual de escola: segmentado, reduzido a si mesmo. Além disso, ele enumerou os obstáculos à implementação de um novo tipo de ambiente escolar: “O primeiro obstáculo sou eu como professor. O educador profissional vive numa cultura de solidão, sendo que a atitude do professor não é solitária. Os projetos são todos coletivos, e não autossuficientes”. Outros impasses, como os próprios alunos, a família, o poder público e as universidades também foram enumerados pelo educador português. “Hoje, crianças do século 21 são ensinadas por pessoas do século 20 e com métodos do século 19”, ressaltou Pacheco.

 

Apesar disso, José Pacheco enfatiza a possibilidade de outra educação. “Se o sistema é insano, organizemo-nos em guerrilheiros da palavra e da práxis”, disse. Aqui no Brasil, ele coordena o Projeto Âncora. Trata-se de uma escola em Cotia, SP, localizada entre três favelas, criada nos moldes da Escola da Ponte. Lá, os alunos aprendem em diversos ambientes, como no jardim ou no circo-teatro, contam com atendimento psicológico, e também não possuem séries definidas ou educadores pré-estabelecidos. Além do mais, todo o projeto possui uma base teórica e científica brasileira, que seja compatível com a população que atende. “O que não tem teoria nem ciência alguma é aula, série, turma, prova: é a escola do século 19”, reforça Pacheco.

Sobre esse assunto, será lançado o filme Quando sinto que já sei, gravado em quatro escolas que fazem parte das diversas que Pacheco supervisiona aqui no Brasil. O longa tratará da temática dos modelos educacionais alternativos e de seus resultados ao longo do tempo. Seu título veio de uma pergunta feita a um dos alunos das escolas abordadas. Ele foi questionado sobre o método avaliativo do sistema, se era baseado em provas. Em resposta, disse: “Prova não leva a nada. Quando sinto que já sei, partilho com os outros”. O filme também abordará a necessidade da criação de redes de aprendizagem colaborativas – comunidades inteiras, como um bairro, por exemplo, que estão inseridas em um processo educacional que reforça a identidade e desinstitucionaliza a própria escola.

O educador comentou também o modelo de ensino deficitário das universidades, em que prática e teoria não são complementares, mas conflituosas. “A prática reclama teoria. Não existe prática sem teoria, e a teoria sem prática é meramente acadêmica”, disse. Segundo Pacheco, as teorias produzidas no ambiente universitário raramente chegam às escolas ou ao âmbito da prática. O papel do professor também foi um dos valores questionados, por se tratar de um trabalho completamente coletivo que, muitas vezes, é visto como uma função superior e individual. “Um professor não ensina aquilo que diz. Um professor transmite aquilo que é”, completou.

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