A possibilidade de se otimizar os tratamentos químicos de tumores cerebrais com o uso de lipossomos sensíveis a temperaturas elevadas faz parte de um estudo realizado pelo Grupo de Biofísica do Instituto de Física da USP . Esse método permitiria que o medicamento utilizado tivesse ação mais concentrada na região encefálica.
Lipossomos são estruturas moleculares de grande porte, semelhantes em muitos aspectos às membranas semipermeáveis das células de nosso corpo. Graças a essa semelhança, são comumente usados como “carregadores” de remédios: a droga a ser administrada é colocada “dentro” dessa estrutura de forma que o corpo não reaja a ela como faria com uma substância desconhecida.
No entanto, quando uma medicação é administrada dessa forma, ela cai na corrente sanguínea e se espalha por todo o organismo em pouco tempo. Assim, apenas uma fração da substância administrada chega ao lugar, no organismo, onde sua ação é necessária.
Em seu trabalho, Tiago Ribeiro (aluno de doutorado do grupo) estuda a possibilidade de aumentar a eficiência de drogas quimeoterápicas através de um “carregador” que se dissolva em temperaturas levemente maiores que os 36,5ºC comuns no corpo humano. Dessa forma, seria possível aquecer a região do corpo na qual o tumor se encontra até uma temperatura um pouco superior, para garantir que houvesse uma liberação maior do fármaco nessa região. Mais especificamente, Ribeiro estuda as possibilidades de utilização desse método para tumores cerebrais.
Para testar sua hipótese, ele realizou experimentos com ratos de laboratório no ano passado, na Duke University, nos Estados Unidos. Os animais utilizados tinham tumores cerebrais e receberam tratamento com esses “carregadores” termossensíveis. Resultados preliminares mostraram que, de fato, a concentração de remédio no cérebro dos ratos foi maior que a normal. Embora isso não garanta que o tratamento seja mais eficiente, é um forte indício de que o método é realmente mais eficaz.
Grupo de Biofísica
Ativo desde 1985, o Grupo de Biofísica possui várias linhas de pesquisa. Segundo a professora Maria Teresa Lamy, coordenadora do grupo, todas essas linhas têm em comum a utilização de técnicas físicas para estudar processos biológicos e químicos. Essa abordagem permite um entendimento diferente sobre processos que ocorrem em nosso corpo no nível molecular e celular.
Como a maioria das interações desse tipo é bastante difícil de se observar, muitos pesquisadores se utilizam de “sondas” que ajudam a tornar mais visíveis os processos que ocorrem nessa escala. Essas sondas são moléculas que se incorporam aos sistemas biológicos de interesse e que sofrem alterações monitoráveis conforme estrutura estudada interage com o meio.
Cintia C. Vequi-Suplicy, pós-doutoranda do grupo, estuda a físico-quimica dessas sondas para compreender melhor seu comportamento em várias situações. Trata-se de um trabalho fundamental para a área, pois a melhor compreensão do comportamento dessas moléculas é essencial para garantir o rigor científico das pesquisas realizadas com elas.