Como parte do ciclo de discussões sobre a Semana do Meio Ambiente, no Instituto de Biociências (IB USP), a palestra Produção de alimentos orgânicos e sustentabilidade expôs questões da produção de alimentos por meio da agricultura biodinâmica – ou agricultura simples. O engenheiro agrônomo e produtor biodinâmico João Batista Wolkmann levantou uma série de discussões sobre a proposta da agricultura sem o uso de compostos químicos, como fertilizantes não-naturais e agrotóxicos, e seus benefícios para o solo e para os alimentos produzidos.
A agricultura biodinâmica, fomentada pelas ideias do filósofo austríaco Rudolf Steiner, é um processo de cultivo do solo que envolve uma relação direta do homem com a terra e a maneira como ela é manejada pelo ser humano. Steiner fundou a Antroposofia, filosofia esotérica caracterizada por ele como ciência espiritual, e é nela em que os conceitos da agricultura biodinâmica estão embasados. O plantio deve ser feito por meio de uma correlação entre a paisagem e o que o homem deseja produzir. “As escolhas por nós feitas refletem o quanto somos responsáveis pela paisagem”, conta João Wolkmann.
O calendário da agricultura biodinâmica é feito anualmente com base nas fases da lua e no zodíaco. Segundo a publicação, de acordo com a época do plantio é possível obter diferentes resultados na qualidade dos alimentos. O produtor ressaltou a importância de se realizar uma agricultura simples para que o processo tenha resultados: “Na agricultura química, quando você põe sais na terra, a planta absorve tanta água que fica túrgida e não consegue se movimentar com relação às fases da lua”.
Críticas e métodos
O engenheiro adota o processo biodinâmico em sua propriedade – Fazenda Capão Alto das Criúvas em Sentinela do Sul (RS) – para o plantio de arroz. Wolkmann criticou ainda a Revolução Verde que aumentou a produção de alimentos nos anos 60 e 70 por meio do uso de insumos industriais e mecanização da mão-de-obra da lavoura. Para ele, ela acarretou em um uso muito mais intenso de fertilizantes (com nitrogênio) e agrotóxicos, o que resultou em uma perda de carbono no solo. “A lavoura que usa nitrogênio químico emite bastante gás carbônico, e ele é liberado causando o efeito estufa”, ressaltou.
O desafio proposto pelo modelo biodinâmico é manter o carbono preso ao solo. Para isso, é necessário realizar a adubação da atmosfera, segundo o engenheiro agrônomo. “A energia de uma planta qualquer é composta por 3% de elementos vindos do solo, e 97% da atmosfera. A planta fornece energia para o solo, através da fotossíntese, e ele fornece os minerais que ela precisa para crescer”, contou. Assim, a sustentabilidade do processo depende da eficiência e da simplicidade do percurso – desde o plantio, até a colheita.
O método conhecido como Chifre de Cristal é um dos meios utilizados para promover a adubação da atmosfera. Ele consiste em realizar um preparado em que se implanta sílica ou esterco de vacas que se alimentam de pasto em um chifre de vaca e deixar o composto enterrado na plantação durante o inverno. Com isso, a matéria se tornará húmus e deverá ser aplicada sobre o solo. “O composto é responsável por fazer a ligação entre o mundo mineral e o mundo vegetal, devolvendo vitalidade e eficiência ao solo e aos alimentos”, explicou João.
“A Segunda Guerra não terminou na agricultura”
Para Wolkmann, a agricultura química é resultado de um processo advindo da Segunda Guerra Mundial, em que, ao seu fim, as indústrias bélicas passaram a produzir fertilizantes, em busca de novos mercados consumidores – baseados em substâncias como a amônia e a uréia, presentes na pólvora, que são capazes de degradar o carbono e o nitrogênio e fazer com que a planta cresça. As indústrias de fertilizantes, criticadas por ele e contrárias ao método da agricultura biodinâmica, se sustentam – desde a Revolução Verde – devido aos subsídios dados aos agricultores pelo governo, que são utilizados para comprar os produtos dessas empresas. Além disso, o engenheiro acredita que a pesquisa nas faculdades é direcionada ao uso de agrotóxicos, o que encarece o produto agrícola. O transporte brasileiro, de alto custo e ineficiente, também é responsável pelos preços dos alimentos. “Estamos privatizando os recursos naturais e democratizando a contaminação”, afirma.