O Instituto de Estudos Brasileiros (IEB USP) promoveu, como parte do projeto de  revitalização e catalogação de seu arquivo, uma homenagem ao centenário de Odette de Barros Mott. A autora, que escreveu diversos títulos infantis, faleceu em 1998. Todos os seus manuscritos foram doados ao IEB e passaram a integrar o acervo da unidade. Ele é composto por mais de 90 fundos e coleções, que incluem documentos manuscritos, obras de arte e livros.

Os livros de Odette, por possuírem temática infantojuvenil, demonstram a política aberta de inclusão da memória da produção literária adotada pelo IEB. Os arquivos do acervo são de origem bastante diversa e incluem títulos e obras de pessoas como Mário de Andrade, Anita Malfatti, Aleijadinho, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, e até a própria Odette de Barros Mott.

Odette começou na carreira literária contando histórias para seus próprios filhos. A autora as inventava e lia para eles. Com isso, sua família a incentivou a publicar o material, e ela lançou seu primeiro livro em 1949, pela editora Brasiliense. A partir daí, diversos títulos da escritora foram lançados, totalizando mais de 80 obras. Livros como As aventuras do escoteiro Bila, A montanha partida (o mistério da expedição) e A transa-amazônica permearam o imaginário dos jovens das décadas de 60 a 90.

Além disso, a obra de Odette possui um caráter transgressor para a época. A escritora abordava temas polêmicos em seus livros e propunha a discussão deles com as crianças e adolescentes (e até com a própria família de seus leitores). Justino, o retirante tratava da problemática da seca nordestina, e da realidade do homem nas condições do sertão. Já Rosa dos Ventos abordava os conflitos de gerações, as divergências entre pais e filhos, a temática das drogas e do homossexualismo.

Para se aproximar dos leitores, Odette visitava escolas e bibliotecas e palestrava sobre os temas do realismo para o público infantojuvenil. No acervo do Instituto de Estudos Brasileiros estão presentes cartas trocadas entre ela e os jovens leitores, além da correspondência com professores, editores e outros escritores. No total, o IEB conta com quase dez mil documentos de Odette. Na homenagem promovida, sua família fez a doação de outros manuscritos que passarão a integrar também o acervo da instituição. A responsável por organizar a obra de Odette no IEB e pelo evento é a pós-doutoranda Raquel Afonso da Silva. Seu projeto, intitulado Cartas a uma escritora: organização arquivística e estudo da ‘Série correspondência de Odette de Barros Mott’, no IEB/USP, é orientado pelo docente e pesquisador Marcos Antônio de Moraes.

A professora titular aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH USP), Nelly Novaes Coelho,  participou da celebração do centenário de Odette Barros Mott. Nelly foi a primeira professora mulher dentro do curso de Letras na FFLCH e a responsável pela criação da cadeira de Literatura Infantojuvenil na Universidade de São Paulo. Ela e Odette se conheceram por meio da ideia de criar o Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil (Celiju). “Odette me procurou por causa da carência de críticos literários no mercado infantil. Ela queria ajuda”, conta Nelly. O Celiju promovia eventos que motivassem a leitura e discutia questões tangentes à literatura para crianças e jovens. Com o fim da instituição, toda a sua biblioteca foi doada à USP e faz parte do acervo do estado, assim como a obra de Odette.