ISSN 2359-5191

18/11/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 19 - Sociedade - Instituto de Estudos Avançados
Inclusão e desenvolvimento na universidade são discutidos em conferência no IEA
Professores da USP criticam a excessiva preocupação do governo com a inclusão social através da universidade em detrimento da pesquisa e dizem que USP Leste serve à lógica do mercado

São Paulo (AUN - USP) - A dicotomia entre inclusão social e a manutenção da qualidade na Universidade Pública foi o tema central da primeira da série de conferências que o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP promove durante todo o mês de novembro sobre o tema Os Desafios do Ensino Superior no Brasil. Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, criticou o Programa Universidade Para Todos, do governo federal, dizendo que ele rompe com o princípio estatal de não financiar o setor privado com dinheiro público.

“É fato que a Universidade não pode mais ter a concepção elitista que possuía no início do século, quando da sua implantação no Brasil”, comenta. “No entanto, a atitude tomada pelo governo somente revela uma posição comodista: é mais barato comprar vagas para alunos carentes em faculdades particulares do que abrir novas vagas no ensino público”.

Nesse sentido, Schwartzman revela que a política de cotas, da forma como está sendo implantada no Brasil, não é significativa nem do ponto de vista qualitativo, nem quantitativo. A demanda de pessoas sem universidade é enorme e as cotas não contemplariam sequer um terço desse pessoal. “Não basta colocarmos o aluno na universidade só porque ele é branco ou negro ou estudou em determinado local”, comenta. Para ele, uma política de inclusão eficiente não pode limitar-se a colocar a pessoa dentro do ensino superior. Deve também criar pontes de relacionamento e condições de sustentabilidade do aluno na instituição. “Não é o que está acontecendo”.

Schwartzman ainda critica o fato de a inclusão social ter centralizado, nos últimos anos, as discussões e atitudes governamentais em relação ao ensino superior no Brasil. Apesar de não desconsiderar o tema, o sociólogo entende que a universidade deve novamente voltar suas atenções para o ensino e a pesquisa - áreas estratégicas de extrema importância, que vêm deixando de ocupar a ordem do dia. “Antes o país pensava em como se desenvolver. Hoje, pensa-se em como acabar com a pobreza. Mas é impossível acabar com as desigualdades sociais de não existir uma agenda de desenvolvimento”, coloca.

Ensino técnico

Nesse ínterim, José Goldemberg, secretário estadual do Meio Ambiente e ex-reitor da USP, rebate a opinião de Schwartzman citando o exemplo da USP Leste. “Muitos criticam o projeto que a USP desenvolveu na Zona Leste por ele não oferecer cursos de alto nível. Essas críticas não são válidas, pois a USP Leste criou faculdades de alta necessidade social, como Gerenciamento Ambiental”, diz. Para ele, há certas áreas em que o elitismo intelectual não deve acontecer.

Para Gabriel Cohn, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que também participou da conferência no IEA, grande parte da demanda humana da universidade está decorrendo não da qualidade dos estudantes, mas de pressões sociais que levam o cidadão a buscar formação oficial. “A USP não deveria englobar cursos profissionalizantes originados no mercado privado”.

Cohn defende a idéia de que o ensino superior não deveria ser massificado devido aos elevados custos de manutenção da estrutura pública de ensino superior. “A universalização do acesso à faculdade é uma quimera”. Dentro desse contexto, Cohn defende que a universidade não pode perder seu papel de “formadora de formadores” de cidadãos, ou seja, a capacitação de professores para o ensino médio e fundamental. “A Universidade deve atender às demandas sociais sem abandonar sua autonomia”.

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