São Paulo (AUN - USP) - Às pessoas que pensam que a extensão universitária raramente atinge a população que mora longe da Universidade, o Projeto Espaço Cultural Cohab Raposo Tavares vem modificar conceitos. Resultado da parceria de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e moradores da região, o trabalho consiste no desenvolvimento e construção de um centro cultural no bairro.
A proposta inicial previa um centro em que as pessoas pudessem ter estímulo, acesso e desenvolvimento de produção cultural dentro do bairro Cohab Raposo Tavares. Uma coisa difícil de se ver em regiões mais pobres, principalmente na área em questão. Quando foi entregue à população em 1991, o bairro não tinha sequer uma escola de ensino fundamental, tampouco uma de ensino médio. “Para ter acesso a qualquer produção cultural, os moradores têm que pegar condução coletiva; muitas vezes, eles tomam mais de dois ônibus para chegar no lugar. O desestímulo é evidente”, comenta o estudante Daniel Nobre, 22 anos, que participa do projeto desde o início, em 2001.
A busca de congregar as atividades de formação específica, como oficinas profissionalizantes, e atividades de caráter artístico, como dança, música e circo, foram pontos discutidos e acordados, e que ajudaram a dar a cara arquitetônica do lugar. “Para entendermos melhor o que deveríamos fazer, tivemos que passar um bom tempo convivendo com a comunidade e entendendo a situação. O desenvolvimento do projeto vem de acordo com as necessidades da população local”, complementa Daniel. Os alunos tiveram orientação do professor Antônio Carlos Barossi, principalmente na parte do projeto arquitetônico e do desenho do edifício.
Histórico
O espaço, que fica no centro geográfico da Cohab, já foi utilizado como lixão e recentemente esteve ocupado por duas companhias de circo. Depois de uma briga, a última companhia foi embora e ficaram alguns componentes, os quais começaram a dar aulas de circo à comunidade. A partir daí, a idéia de um centro cultural foi ganhando força entre os moradores que, com sua Associação de Moradores, começaram a correr atrás da viabilização do sonho. Decidiram então procurar o LabHabGFAU (Laboratório Habitacional do Grêmio da FAU) e todo processo teve início.
Até a fase atual, o principal objetivo do grupo de estudantes é fazer o projeto executivo, ou seja, detalhar tecnicamente o programa para a construção. Enquanto não terminam essa fase, os alunos da FAU já estão procurando uma forma viável para o começo das obras. Por ora, os estudantes ainda não contam com o apoio oficial de outra instituição, que não o Poder Público. O Escritório Piloto, de estudantes da Poli-USP, já foi contatado, assim como se espera contar com a assessoria jurídica dos estudantes da Faculdade de Direito da USP.
Uma doação da prefeitura de Genebra (Suiça) era aguardada, mas há riscos de ela não ocorrer, segundo Daniel: “Estávamos esperando uma resposta da prefeitura de Genebra quanto ao valor de uma doação que eles iriam fazer, dentro de uma parceria firmada entre a prefeitura de Genebra e a de São Paulo para a construção do Espaço Cultural”. O fato é que as chances desse dinheiro chegar, segundo o responsável pela parceria na Secretaria Municipal de Relações Internacionais, diminuíram consideravelmente em função da eleição de José Serra. Ele toma como base uma declaração do prefeito de Genebra de que as parcerias Genebra - São Paulo seriam revistas em caso de mudança de governo. “Enfim, a parceria com Genebra talvez perca um pouco de relevância agora, sendo apenas uma tentativa de levantar recursos para o projeto do Espaço”. A expectativa de se conseguir outra forma de doação da iniciativa privada ainda é grande. Ela seria decisiva para o começo das obras.