ISSN 2359-5191

18/11/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 19 - Saúde - Hospital das Clínicas
Pesquisa procura ligação entre ganho de peso e alterações genéticas
Equipe do Laboratório de Genética Molecular do Hospital das Clínicas estuda influência de receptores de cortisona na obesidade e seus reflexos na hipertensão e diabetes.

São Paulo (AUN - USP) - A obesidade é considerada, atualmente, um problema de Saúde Pública em todo o mundo. Estudos apontam que, no Brasil, aproximadamente 40% da população sofrem deste mal, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Além de afetar a qualidade de vida, sendo fator de risco para doenças cardíacas e diabetes, a obesidade alimenta um mercado vasto de produtos, valendo-se de padrões de beleza e saúde a muito enraizados na sociedade. Mas ao contrário do que a propaganda destes produtos tende a passar, as causas da obesidade são diversas, como má alimentação, sedentarismo, mal funcionamento do sistema endócrino ou tendências genéticas. Entre as causas genéticas se admite que uma série de genes podem causar a doença. Tais genes são denominados genes candidatos a obesidade, alguns relacionados à absorção de gordura no organismo, e outros à ação de hormônios específicos.

A pesquisa

O Laboratório de Genética Molecular do Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Hospital das Clinicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), abordou estas alterações genéticas que influem no ganho de peso. A pesquisadora Cíntia Cercato, em sua pesquisa de doutorado intitulada Receptor de glicocorticóide: gene candidato para obesidade visceral e alterações metabólicas, foi abordada a possibilidade de alterações no gene que codifica este receptor influírem no ganho de peso.

O glicocorticóide é um hormônio facilmente encontrado em todas as pessoas, conhecido também como cortisona. O seu excesso está associado, entre outras coisas, ao aumento de peso, mas apesar disto é usado em remédios para pessoas que têm asma ou problemas reumatológicos, por ter propriedades anti-inflamatórias. Para este hormônio agir ele se liga a um receptor, criado por uma parte da nossa cadeia de DNA. Existem variações genéticas no gene responsável pela criação deste receptor que o tornam mais ou menos ativo. Neste caso a variação que ocorre é considerada um polimorfismo do gene, por estar presente em mais de 1% da população, e não inviabilizar a função do gene, apenas alterando seu efeito no organismo.

Esta alteração foi descoberta em 1998 por um grupo de pesquisadores holandeses, quando estudavam a aplicação do glicocorticóide numa população de idosos. Entre os trabalhos realizados com este grupo, houve o estudo genético a partir do qual se percebeu a variação e sua relação com a absorção do hormônio. Partindo deste trabalho, Cercato montou a proposta de doutorado em 2000, resultando na tese apresentada neste semestre.

O desenvolvimento deste trabalho se deu a partir da observação de que o trabalho dos holandeses mostrava que o polimorfismo deste gene estava associado ao aumento da atividade do glicocorticóide, hormônio que se sabe estar ligado ao ganho de peso. Buscou-se então comprovar se havia relações entre estas alterações genéticas e o ganho de peso em si.

Os resultados

A freqüência da alteração encontrada neste estudo foi de 4% dos pesquisados com variação no receptor, entre os pacientes obesos. Entre os não-obesos a incidência foi de 2% dos pesquisados apresentando a forma variante. Apesar da variação deste gene ter sido mais freqüente em obesos, após a aplicação de métodos estatísticos se constatou que não havia diferença relevante na incidência da mesma.

Estes dados permitiram a conclusão de que o gene em questão não contribui para o ganho de peso, porém se encontrou, naqueles que têm este receptor mais ativo, a tendência de que uma série de indicadores metabólicos estejam alterados para parâmetros clinicamente mais "graves" em relação a indivíduos com a mesma quantidade de gordura corporal. Sendo assim, os indivíduos que têm esta polimorfia apresentam mais riscos, principalmente para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Entre estes riscos está o aumento da pressão arterial, a presença de um tipo de gordura que pode obstruir vasos sanguíneos no sangue e maior resistência à ação da insulina, fator de risco para o desenvolvimento da diabetes.

Detalhes da pesquisa

Além do estudo inédito desta alteração na população brasileira, o grupo trabalhou com métodos para análises do perfil metabólico diferentes dos comumente utilizados, através de tomografias computadorizadas, mais precisas na medição da quantidade de gordura, enquanto a maioria dos estudos se vale de métodos antropométricos.

Os estudos se centraram nos aspectos relativos a obesidade visceral, na qual há concentração de gordura da região do abdome. Esta forma de obesidade traz uma série de complicações não presentes na obesidade periférica, e é claramente influenciada pelo glicocorticóide, entre outros fatores.

Após o ano de 2000 essa pesquisa foi realizada em populações de outras partes do mundo, por laboratórios não ligados ao HC. Entre os trabalhos apresentados, há estudos em italianos, franceses, australianos, suecos e sul-asiáticos, com pequenas variações de resultados. Existem populações em que se encontrou uma relação entre a variação e o ganho de peso, como foi o caso dos franceses, enquanto nos suecos ela não foi verificada. Isso pode indicar tanto uma interferência da própria etnia quanto a existência de outros fatores relacionados a esta tendência.

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