ISSN 2359-5191

21/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 42 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Malária durante gravidez tem alto impacto nos bebês
Estudos já mostram que doença causa diversos problemas em crianças nascidas de gestantes infectadas

Os efeitos da malária gestacional variam de acordo com a espécie de Plasmodium com a qual a grávida foi infectada. Em palestra no ICB (Instituto de Ciências Biomédicas da USP), o professor e pesquisador do Departamento de Parasitologia da instituição, Claudio Marinho, falou sobre essas variações em relação aos dois tipos mais comuns de Plasmodium no Brasil: os Plasmodium falciparum e vivax.   

A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários (seres unicelulares e eucariontes) do gênero Plasmodium trasmitidos através da picada do mosquito fêmea do gênero Anopheles. Por ano, no mundo, cerca de 250 milhões de pessoas são infectadas e três milhões morrem em decorrência da doença que é considerada um dos maiores problemas de saúde pública mundial. No Brasil, o cenário não é diferente. Mais de 300 mil pessoas sofrem da moléstia todo ano, quase todas (99,7%) na região Norte, mais precisamente na área da Amazônia Legal.

Conforme relata o professor, dois são os principais grupos de risco: as crianças até seis anos de idade e as gestantes. “As crianças tem maior risco de desenvolver doença grave por falta de imunidade”, afirma o pesquisador. Já o caso das grávidas é diferente. Nesse grupo, há um agravante: a relação íntima entre o Plasmodium falciparum e a placenta. Estudos já indicam que esse protozoário para na placenta e, ao se acumular nela, gera processo inflamatório, que altera a integridade da placenta e modifica a distribuição de nutrientes e gases respiratórios, representando risco para a gestante e também para o feto.

“O principal resultado da malária gestacional é o nascimento de crianças com baixo peso”, relata o professor, que ainda complementa que, em números de 2007, “entre 60 mil e 360 mil crianças morreram devido ao problema da malária gestacional, ao baixo peso”. Marinho ainda elenca os problemas para as crianças que sobrevivem: elas serão mais suscetíveis a doenças infecciosas, podem ter déficit de aprendizagem e lesões no sistema nervoso central. Isso só se intensifica uma vez que o tratamento da malária em grávidas é mais complicado. Há locais onde a medicação só é encontrada em forma de comprimidos, o que torna difícil a absorção pelas gestantes, que costumam vomitar (um dos problemas inerentes à gravidez) após a ingestão.

É importante salientar que as características epidemiológicas da região na qual a gestante se encontra podem alterar a gravidade dos riscos que ela enfrentará. Em um local com baixa incidência de malária (por Plasmodium falciparum), a grávida terá baixa imunidade à doença, sendo assim, os riscos para ela e o feto são muito maiores do que em áreas endêmicas, nas quais, os perigos, geralmente, são somente para o feto. Outro fator de influência é a paridade, porque, após a primeira gravidez, a gestante adquire imunidade e diminui seus riscos tanto de infecção quanto de gravidade da doença.

Plasmodium vivax e a malária gestacional em Cruzeiro do Sul (AC)

Os estudos das infecções por Plasmodium falciparum já estão bem consolidados. Contudo,  os efeitos da malária gestacional por Plasmodium vivax ainda são incógnitas. Pensando nisso, um estudo, no qual o professor Claudio Marinho é responsável, iniciou-se na cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, em uma das regiões brasileiras com maior incidência de malária por vivax. O objetivo da pesquisa era analisar as mudanças ocorridas na placenta após a infecção por Plasmodium vivax.

No estudo em Cruzeiro do Sul, 119 grávidas foram analisadas, todas com perfis homogêneos. 78 estavam infectadas, 41 não (constituindo o grupo controle negativo). Das infectadas, 59 eram por Plasmodium vivax e 19 por ‘falciparum’ (também um grupo controle). Seis modificações biológicas placentárias foram escolhidas para serem investigadas. Destas, apenas três mostraram alguma alteração significativa. Segundo Marinho, a conclusão do estudo demonstrou que,  em todos os parâmetros, ‘vivax obedece uma escala intermediária de variação, ou seja, afeta a placenta, mas com intensidade muito menor do que o Plasmodium falciparum. Uma das explicações para esse resultado pode ser as várias diferenças entre as duas espécies. Por exemplo, a alta capacidade de ser sequestrado do ‘falciparum ocasiona seu alojamento nela, já o ‘vivax’ possui baixa eficiência nesse ponto, raramente sendo encontrado, na hora do parto, na placenta de mulheres infectadas.

Apesar dessas conclusões, segundo o professor, mais estudos ainda são necessários para afirmar com certeza que as modificações na placenta decorrentes dessa infecção são pequenas. Ele ainda acrescenta que uma continuação desse projeto já está acontecendo e, agora, a intenção, para uma resposta mais concreta, é aumentar o número de placentas analisadas, além de acompanhar a grávida durante toda a gestação. O desenvolvimento de novas técnicas e o aperfeiçoamento das antigas também será feito.


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