Uma medida que pode auxiliar o dentista durante o diagnóstico cefálométrico foi estudada pela mestranda Giselle Guimarães do Carmo na Faculdade de Odontologia (FO) da USP. Sob a orientação da professora Solange Mongelli de Fantini, a pesquisadora investigou a medição da diferença entre a maxila superior e a mandíbula, uma das informações que é usada para fazer o diagnóstico e tratamento adequado do paciente.
Giselle estudou uma modificação da medida Wits. A forma convencional baseia-se em projeções de pontos específicos numa linha intracraniana, encontrada a partir da interposição dos dentes. O problema é que esse plano é passível de alterações. A pesquisadora cita como exemplo a perda dos dentes, que pode forçar a variação na inclinação da linha e a mudança dos pontos de referência, interferindo na medida final. “Os pontos projetados não são totalmente verdadeiros, o que pode levar a um diagnóstico equivocado”, explica.
A fim de reparar esse problema, a pesquisadora utilizou-se do valor da medida conhecida como Wits “modificado”. Para o desenvolvimento do trabalho, Giselle utilizou um grupo homogêneo de indivíduos, classificados como “perfil equilibrado”, ou seja, com um perfil considerado harmonioso. Os pacientes foram selecionados a partir de um banco de amostras da FO, sob a supervisão de três professores e de um protocolo.
Desenvolvimento da pesquisa
O primeiro passo foi padronizar as radiografias, utilizando um prumo de referência, colocado à frente do paciente. A partir dessa marcação, chamada “vertical verdadeira”, foi traçada uma perpendicular (“horizontal verdadeira”), na qual foram projetados os pontos. Essa linha passou a ser extracraniana e, portanto, não sofreu mais as influências externas que prejudicavam os resultados anteriores.
Para realizar a marcação, foi utilizado o software Dolphin, que trabalha com a imagem das radiografias de forma específica. A pesquisadora encontrou os pontos de referência e o programa fez a medição. “É um recurso que possibilita uma grande economia de tempo para o clínico e o pesquisador”, ressalta.
Os valores foram encaminhados para uma empresa de estatística e analisados posteriormente. Giselle explica que a conclusão a que se chegou é que, dentre as amostras estudadas, a medida não é fixa e se encontra numa margem de valores. A pesquisadora complementa: “Encontramos ainda uma diferença significativa para o resultado de homens e de mulheres”.
Na primeira medida, a perda de dentes pode gerar pontos de referência que não são verdadeiros. Já na segunda, estudada pela pesquisadora, os pontos extra-cranianos não sofrem este problema.
Apelo estétilo
Giselle explica que o profissional pode fazer seu diagnóstico a partir dessa medição. No entanto, o dentista não deve se ater inflexivelmente ao resultado na hora de montar o tratamento. De acordo com a pesquisadora, a própria variação encontrada na pesquisa indica que os valores não são rígidos. “A cirurgia vai muito além dos números”, adverte.
Justamente por isso, a pesquisadora destaca a grande procura dos consultórios por questões estética. Muitas vezes, as pessoas podem ter discrepâncias no esqueleto e, ainda assim, terem um perfil harmonioso. Segundo Giselle, o profissional deve ter bom senso e considerar os exames funcionais e as queixas de cada paciente para escolher o tratamento adequado. “O diagnóstico deve ser feito de acordo com cada caso”, sintetiza.