Os professores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) encontram-se cada vez mais preocupados com as condições ambientais dentro do seu campus e nas comunidades arredores. Os poços de gás metano presentes no solo e os compostos orgânicos voláteis inquietam professores, alunos e a comunidade que frequenta o campus leste.
Em debate ocorrido no final do mês passado, professores da USPLeste, representante da direção da escola e o pesquisador Carlos Medonça, orientador do mestrado de Eduardo Lima de Abreu, que utilizou o campus leste como estudo de caso para sua dissertação sobre “imageamento de resistividade elétrica de áreas contaminadas utilizando arranjos poço-superfície”, se encontraram para esclarecer dúvidas quanto à saúde e segurança daqueles que frequentam a Escola. Foram convidados, também, para o debate representantes da Superintendência do Espaço Físico da USP e representante da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que não compareceram.
Histórico
O campus leste da Universidade de São Paulo, segundo a dissertação de mestrado de Eduardo Lima de Abreu, fazia parte do Parque Ecológico do Tietê e foi utilizado como “áreas de bota-fora de materiais dragados durante a construção do denominado lago-canal existente a montante da barragem da Penha, e sedimentos resultantes da retificação e rebaixamento da calha do Rio Tietê”.
O terreno da USPLeste tem condições favoráveis para o desenvolvimento do gás metano por causa de processos bioquímicos realizados por microrganismos anaeróbicos presentes em sedimentos orgânicos do fundo de lagoas soterradas durante o traçado de 2008. "De fato, há registros de emanação de metano, bem como acumulação em níveis do solo ou obras sem ventilação, em diversos locais ao longo da planície aluvionar do Rio Tietê”, explica Abreu em sua dissertação. “No campus da USP Leste, a emanação de metano foi constatada em alguns locais e, sob recomendação da Cetesb, foram instalados sistemas de exaustão de gases do subsolo”.
A linha branca contínua, em 1958, mostra o traçado do rio Tietê antes da retificação. Em 2008, vê-se a EACH construída e o novo traçado do rio. (Imagens retiradas do site www.geoportal.com.br, incluídas no trabalho de Eduardo de Abreu).
Pesquisa
Através de procedimentos de imageamento elétrico (realização de medidas da resistividade ao longo de um perfil), o estudo no campus leste mostrou que esses levantamentos podem identificar acumulações de gás no substrato. Isso se dá, segundo a dissertação, porque “bolsões de gás criam feições com aumento de resisitividade que, no estudo considerado, puderam ser detectadas a 4m abaixo da superfície”.
A pesquisa demonstrou também que as concentrações dos gases não estão em locais que antigamente eram utilizados como bota-fora de sedimentos da planície aluvionar, e sim no interior do pacote sedimentar do Rio Tietê. Ou seja, diferentemente do que ocorreu no shopping Center Norte, explica Carlos Medonça para os professores da EACH. O bolsão de gás não está no aterro, e está abaixo.
Debate
“O que ocorre no campus, não é uma exceção. Pois é o que acontece ao longo de toda várzea do Tietê”, explica Carlos Medonça, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, orientador de Eduardo Abreu. Se existe o gás metano, ele deve ser tirado, é o que a Cetesb recomenda. O professor atenta que as chaminés devem ser instaladas nos bolsões de gás com precisão, senão pode acontecer de expelir água ou ainda, movimentar as terras.
Segundo o representante da EACH, todas as ações são coordenadas e conduzidas pela SEF (Superintendência do Espaço Físico), que não enviou representantes. Ela contratou uma empresa terceirizada para monitorar, duas vezes ao dia, todos os 178 poços de gases determinados pela Cetesb, internos e externos. A cada dia são avaliados o limite de explosividade e a quantidade de metano que está nos poços. Para o escoamento, a Sef abriu-se um processo licitatório para a instalação de outras chaminés. É válido ressaltar que os limites de explosividade estão no índice considerado ideal, ressaltou o representante, embora o Medonça explique que por vários motivos, pode sim existir um contato com o oxigênio que acarrete em explosão.
As medições dos poços são feitos através de ralos no banheiro, fissuras no solo e poços de elevador desativados marcados por tinta vermelha, segundo representante da EACH. (Foto: Jeanine Carpani)
A comunidade frequentadora da USPLeste se preocupa, então, além do risco de explosão devido a presença do gás metano, com compostos orgânicos voláteis (VOCs). Estes são considerados poluentes perigosos, sendo que, alguns deles, podem ser tóxicos e cancerígenos, em longo prazo. Os VOCs são encontrados em tintas, materiais de construção, adesivos, artigos de limpeza, fumaça de cigarros e combustíveis, por exemplo.
Esse debate vem à tona no ano em que a Escola de Artes, Ciências e Humanidades completa 10 anos e divulgou a construção de novos prédios para expansão.
A Cetesb deu prazo de até 120 dias, a partir do dia 29/11/2012, para a conclusão de algumas medidas de segurança no campus. Entretanto, os prazos venceram e foram renegociados. A pergunta que fica é, até quando?
Mais informações:
http://www.iag.usp.br/pos/sites/default/files/d_eduardo_l_abreu_corrigida.pdf