ISSN 2359-5191

26/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 45 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Cuidar da saúde periodontal aumenta imunidade de pacientes com HIV

O tratamento da doença periodontal pode ocasionar uma melhora na imunidade do paciente que vive com o vírus HIV. Foi o que mostrou a primeira pesquisa que relaciona a presença do vírus com a periodontite, realizada pelos professores Cláudio Costa, Élcio Giovani, Márcio Casati e Renato Casarin e os doutorandos da Faculdade de Odontologia (FO) da USP Daniela Salgado e Gilberto Noro Filho.

Gilberto explica que a doença periodontal se desenvolve a partir da extensão do processo inflamatório iniciado na gengiva para os tecidos de suporte do dente. A placa bacteriana se estabelece ao redor do dente e, uma vez consolidada, pode levar ao desenvolvimento de um processo inflamatório. “Aproximadamente 30% dos pacientes que não conseguem tratar a inflamação sofrem perdas ósseas”, diz.

Alguns estudos já encontraram relações entre a periodontite e outras doenças crônicas, como a diabetes, doenças renais e osteoporose. Segundo Gilberto, a ideia da pesquisa era testar se os pacientes imunossuprimidos pelo HIV teriam uma melhora dos parâmetros sistêmicos após o tratamento.

Coleta de dados

Para a realização do estudo, Gilberto avaliou indivíduos soropositivos que tomavam a terapia antirretroviral  (coquetel) por no mínimo três anos, sem mudança no tratamento durante o período. A avaliação do pacientes foi realizada tanto no âmbito clínico da odontologia quanto nos indicadores médicos.

Desta forma, foram coletados como índice de sangramento e formação da placa para o primeiro caso e contagem dos linfócitos TCD4 e a carga viral no segundo. Gilberto completa que, desde o início e durante todo o tratamento, o cuidado da doença foi sempre reforçado. “Mostramos os benefícios de se tratar a doença e ensinamos técnicas de escovação e remoção da placa”.

Após a coleta dos dados, após três e seis meses de estudo, foi realizado um teste de correlação estatístico. Gilberto explica que a quantidade de linfócitos TCD4 aumentou, o que indica uma melhora na imunidade do paciente. Ao mesmo tempo, foi observada uma redução da quantidade de vírus no organismo. “Encontramos uma relação positiva entre o cuidado com a doença periodontal e da saúde do paciente”, comemora.

Dilema ético

Durante a realização do estudo, Gilberto enfrentou um problema ético, já que não é possível criar um grupo controle. Segundo o doutorando, não se pode suspender o tratamento da doença periodontal ou a terapia antirretroviral de um grupo de pacientes para fazer uma comparação. Ele encontra algumas alternativas para a questão: “A solução futura é tentarmos comparar pacientes com diferentes níveis de imunossupressão ou, ainda, através de pesquisas laboratoriais”.

Mesmo sem o grupo de comparação, Gilberto acredita que é possível explicar a melhora dos índices do pacientes por uma “soma de dois benefícios”. A motivação incentivaria tanto a adesão ao tratamento da doença periodontal, através da escovação e da remoção da placa, quanto a sua continuidade.

Gilberto acredita que esse estudo é o primeiro passo para que futuras pesquisas possam cofirmar o papel da saúde periodontal na imunidade dos pacientes HIV “As evidências sugerem que a redução de mediadores inflamatórios e bactérias associadas à doença períodontal resultaram numa melhora da saúde geral do paciente”, sintetiza.

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