ISSN 2359-5191

24/11/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 20 - Saúde - Instituto de Biociências
Toxinas marinhas podem ajudar na cura de doenças
Substâncias bioativas presentes em vegetais e animais do litoral paulista produzem efeitos farmacológicos e atuam no combate a tumores e outras doenças

São Paulo (AUN - USP) - O que teriam em comum a esponja-do-mar e a anêmona? Além de serem habitantes conhecidos do litoral paulista, esses organismos produzem toxinas potentes que podem causar sérios danos à saúde humana. Ou não, como mostram recentes pesquisas do Instituto de Biociências (IB-USP) em parceria com os Institutos de Química e Butantan, nas quais as “substâncias naturais bioativas” desses e de outros organismos marinhos, como a ascídia, são isoladas e testadas para possíveis usos farmacológicos. Muitas toxinas, em baixa concentração, produzem efeitos benéficos no corpo humano e atuam como antiinflamatórios, anti-espasmódicos e, em alguns casos, até impedem a multiplicação de células cancerígenas.

As pesquisas conduzidas por José Carlos de Freitas, professor titular de Fisiologia do IB-USP, em conjunto com alunos doutorandos e ex-alunos doutores abrangem uma grande variedade de organismos marinhos encontrados principalmente no litoral paulista. A descoberta de espécies novas realizadas por seus colegas de pesquisa até de outras universidades, como a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), vem em conjunto com a de muitas substâncias ainda desconhecidas. O trabalho dos pesquisadores (químicos orgânicos e bioquímicos) consiste em identificar a estrutura molecular e o potencial dessas toxinas, para que depois sejam testadas em cobaias e posteriormente, como fármacos para humanos.

Atualmente, estão em investigação 35 compostos que já foram isolados e identificados quimicamente – muitos deles pelo pesquisador Roberto Berlinck, do Instituto de Química da USP São Carlos – e aproximadamente dez deles são inéditos. Até o momento, as pesquisas de substâncias bioativas restringem-se ao litoral norte paulista e ilhas distantes, como as do Arquipélago de Fernando de Noronha (PE). Segundo Freitas, isso leva a crer que novos investimentos para o fomento dessas pesquisas, como as novas instalações do Centro de Toxinologia Aplicada do Instituto Butantan, um dos centros de pesquisa e difusão da FAPESP, poderão intensificar a descoberta de novos compostos. “O litoral brasileiro poderá vir a ser um grande celeiro de novos fármacos, com sua extensão de oito mil quilômetros”, complementa o pesquisador.

Venenos benéficos

Muitas das substâncias venenosas produzidas pelos organismos marinhos apresentam efeitos bons para a saúde humana, quando alguns de seus compostos são isolados e testados em baixas concentrações. A Phallusia nigra , uma ascídia, produz um veneno de efeito paralisante. Nele, foi encontrado um composto anti-mitótico, ou seja, que é capaz de impedir a proliferação de células tumorais, especialmente no caso do câncer de mama. Ainda na ascídia foi encontrado um composto de ação semelhante à histamina, susbstância neurotransmissora e mediadora de reações alérgicas, e que mais tarde foi comprovada por outros autores ser a própria histamina. Outros agentes farmacológicos estão em fase de estudo, em outra espécie de ascídia, a Microcosmus exasperatus e nas esponjas marinhas G. corticostyllifera e Mycale laxissima.

De uma espécie de anêmona-do-mar, a Bunodosoma caissarum, endêmica da costa brasileira, os pesquisadores conseguiram isolar um composto inédito, a imunopurina, que age como antagonista de receptores de adenosina e aumenta a motilidade intestinal.

Em esponjas marinhas, vários compostos já foram descobertos. No caso da Amphimedon viridis, foi isolado a halitoxina, uma potente toxina que, em ensaios realizados no Instituto Butantan, mostrou ser um moluscocida eficiente que pode ser utilizado no combate ao vetor da esquistossomose, a Biomphalaria glabrata . Ainda nesta espécie, foi descoberto, em parceria com o pesquisador Roberto Berlinck, outro composto inédito (1-3dimetilisoguanina), capaz de provocar aumento dos movimentos peristálticos no intestino de mamíferos. Entretanto, esses compostos ainda não foram testado em humanos.

Substâncias antiinflamatórias foram encontradas na esponja Chondrilla nucula e também no extrato obtido da alga vermelha Liagora farinosa e de folhas da planta de dunas de praia, Ipomoea littoralis. Os resultados foram obtidos em testes tópicos com camundongos.

As pesquisas das toxinas também são importantes para a prevenção de envenenamentos em caso de ingestão de frutos do mar. Ainda não existe um monitoramento ao longo do ano dos níveis de toxicidade presentes nos mariscos e peixes consumidos do litoral paulista, mas o trabalho pode ser realizado futuramente na Fundação Mar, uma ONG sediada em São Sebastião (SP) ou com a infra-estrutura já existente do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar-USP).

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