Exercícios com foco no desenvolvimento da força muscular vêm sendo cada vez mais utilizados por indivíduos que procuram academias ou faculdades da área de saúde. Consequentemente, profissionais de tais ramos precisam crescer em termos práticos e teóricos para atender a essa demanda. É com esse intuito que a Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE) abriu vagas para o curso de extensão e especialização “Treinamento de Força: da saúde ao alto rendimento”’, coordenado pelos professores e pesquisadores do Laboratório de Adaptação ao Treinamento de Força da referida unidade, Hamilton Roschel, Carlos Ugrinowitsch e Valmor Tricoli, que terá início em agosto deste ano.
Os avanços da área tecnológica são outro fator. Eles fazem necessária a especialização do profissional de saúde. Quem pensa que as principais implicações do desenvolvimento técnico-científico são nos próprios exercícios e máquinas utilizadas está enganado. Roschel garante que “o conhecimento voltado ao exercício, desde os aspectos biológicos aos sócio-culturais, teve um avanço bastante importante nas últimas décadas, e isso se deve muito ao aspeto tecnológico envolvido”. O professor também comentou que “a educação física tem um estigma de ser uma intervenção profissional pautada meramente na prática, mesmo porque essa evolução no conhecimento teórico-científico da área não é algo tão antigo assim”.
Cultura a ser mudada
A cabeça da população está cada vez mais voltada para a ideia de ganhar massa muscular. Prova disso é a quantia faturada pelo setor no Brasil no ano passado: R$ 10 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Dietéticos e Especiais (Abiad). Este é um dado que comprova a necessidade de maior especialização dos profissionais que trabalham na área, haja vista a forma errônea com a qual esse mercado lida com seus consumidores. “A indústria de suplementos ainda não entendeu que quem precisa mais dos seus produtos não é quem vai à academia, mas sim uma outra gama de pessoas que eles ainda não atingem”, criticou Roschel. O curso conta, ainda, com um módulo direcionado para a nutrição aplicada ao treinamento de força no qual serão discutidas as aplicações dos diferentes suplementos nutricionais voltados para esta modalidade de exercício.
O treinamento centrado no atleta de alto rendimento também será alvo de discussão. Em muitos casos, a saúde é deixada de lado em benefício dos resultados esportivos. “Os estudos estão em busca de formas mais efetivas de se controlar as cargas de treino de forma a evitar a sobrecarga excessiva de treinamento”, comentou o pesquisador. “A carga de treino é importante para induzir adaptações, a sobrecarga excessiva, contudo, é que é o problema.”
A cultura criada em torno do ganho de força e massa muscular é representada pelo ambiente nem tão saudável que grande parte das academias apresentam. O culto excessivo ao corpo, em detrimento dos benefícios relacionados à saúde, é um dos principais males que tal cultura cultiva. “O ambiente de academia está, de forma geral, corrompido. Normalmente, o que é valorizado é o aspecto estético e, para chegar em tais objetivos de forma rápida, as estratégias geralmente usadas não são as mais saudáveis”, lamentou o professor.
As diretrizes do curso
O curso coordenado pelos pesquisadores do laboratório da EEFE terá um caráter de especialização no campo de orientação de exercícios físicos com enfoque em força. Também é de interesse dos organizadores do curso que a ideia de que educação física é algo prático, que não apresenta alto teor de estudos teóricos, seja desmitificada. “O que queremos é ter um curso de especialização que obviamente tenha uma característica profissionalizante, porém pautado em evidências científicas”, garantiu.
O público-alvo do curso são profissionais ligados ao treinamento físico e a saúde, mas isso não se restringe a indivíduos da área de educação física. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e biológos serão bem-vindos nas aulas. O objetivo desta seleção mais ampla é, nas palavras de Roschel, “ter mais profissionais aptos a orientarem pacientes e atletas a utilizarem adequadamente o treinamento de força.”